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MP investigou as reuniões não oficiais de Azeredo sobre Tancos

MP investigou as reuniões não oficiais de Azeredo sobre Tancos

Um dos trunfos que o Ministério Público dispõe contra o ex-ministro da Defesa são as alegadas conversas tidas com o então diretor da PJM, o coronel Luís Vieira. Acusação está para breve

MP investigou as reuniões não oficiais de Azeredo sobre Tancos

Hugo Franco

Jornalista

Quando se deslocou ao Ministério da Defesa para entregar em mãos um memorando e outros documentos a Azeredo Lopes, a 4 de agosto de 2017 (um mês e meio após o furto aos paióis de Tancos), o coronel Luís Vieira, então diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), já tinha estado em casa de Azeredo Lopes, situada na Alta de Lisboa. E o assunto tinha sido o caso de Tancos. Este é um dos dados do último despacho do Ministério Público sobre o caso, de há dois meses.

Um mês antes, mais concretamente a 3 de julho de 2017, naquele que terá sido o primeiro encontro secreto entre os dois responsáveis após o roubo do arsenal, em casa de Azeredo, o então o número 1 da PJM terá mostrado o seu desagrado pela decisão da procuradora-geral da República, na altura Joana Marques Vidal, ter afastado a PJM da investigação a Tancos.

No final de julho, desta vez junto à residência de Azeredo, o coronel Luís Vieira terá então pedido ajuda ao governante para que tentasse obter um parecer jurídico que pudesse colocar em causa o despacho do MP. Parecer que teria como objetivo colocar a Judiciária militar no terreno, na senda das armas roubadas.

Em agosto, no já referido encontro no ministério da Defesa, o coronel entregou a Azeredo três documentos: entre eles um memorando com o timbre da PJM e outro com um resumo com uma fita do tempo sobre o assalto aos paióis nacionais, que ocorreu entre 27 e 28 de junho de 2017. Mas o que realmente preocupou a investigação foi o facto de o ex-número 1 da Judiciária Militar ter passado ao ministro da Defesa um documento do Ministério Público sobre a investigação ao roubo do arsenal de guerra, que se encontrava em segredo de justiça.

Durante essa reunião, Vieira terá então revelado pormenores sobre a operação ilegal da PJM, nomeadamente a existência de um assaltante que estava disposto a negociar a entrega do armamento furtado nos paióis nacionais na condição de não ser detido.

Segundo os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) que investigam o caso, o então ministro da Defesa deu ordens para que os documentos entregues por Vieira não fossem registados oficialmente no Ministério. Bem como a presença do ex-número um da PJM naquele gabinete. E não alertou a PGR sobre a investigação paralela que estava a ser realizada pela Judiciária Militar.

Ainda de acordo com o MP, o ex-ministro terá guardado este segredo por estar "consciente" de que a recuperação das armas teria "um papel muito importante na imagem do Governo", numa altura em que o Executivo estava sob pressão devido às mortes nos incêndios na zona centro.

O DCIAP não tem dúvidas de que as conversas entre os dois arguidos durante esse período permitiam que o ministro fosse "acompanhando o desenrolar dos acontecimentos".

Em outubro desse ano terá percebido que a recuperação das armas "estava iminente". De acordo com a investigação, Vieira explicou nessa altura ao chefe de gabinete de Azeredo, por telefone, que o ministro devia preparar as equipas do Exército de inativação de explosivos para agirem a qualquer momento. O pedido terá sido depois transmitido ao ministro.

A acusação sobre o processo está para breve. Se não for deduzida até quinta-feira à noite, o principal suspeito do assalto será libertado. Isto porque na sexta-feira faz um ano sobre o decretamento da prisão preventiva de João Paulino.

O processo tem 25 arguidos, entre eles responsáveis e operacionais da PJM e da GNR de Loulé e civis que terão roubado as armas de guerra.

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