Sociedade

Agricultores do Baixo Alentejo indignados com decisão do reitor de Coimbra sobre carne de vaca

Agricultores do Baixo Alentejo indignados com decisão do reitor de Coimbra sobre carne de vaca
Vitaly Timkiv

"Vive-se um tempo de emergência climática, sim", mas "declarações infundadas e alarmistas a este respeito colocam em causa o desenvolvimento do setor agrícola no seu todo, a sua rentabilidade, o equilíbrio do espaço rural, a produção nacional e a soberania alimentar do país", defende a FAABA

A Federação das Associações de Agricultores do Baixo Alentejo (FAABA) reagiu esta quinta-feira com "indignação" às declarações "enganosas e alarmistas" do reitor da Universidade de Coimbra, que decidiu eliminar a carne de vaca nas cantinas.

Na terça-feira, o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão, anunciou que, por razões ambientais, a instituição vai eliminar o consumo de carne de vaca nas suas cantinas a partir de janeiro como "uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 [dióxido de carbono] que existe ao nível da produção de carne animal".

Estas declarações, "apresentadas de forma descontextualizada, configuram-se enganosas", afirma a FAABA, considerando "muito grave que o representante da Universidade de Coimbra veicule alarmismo e possa colocar em causa princípios de rigor científico e proferir afirmações sem sustentação objetiva".

"A informação descontextualizada por parte de uma instituição universitária está a ensinar o quê? O fundamentalismo? A imprecisão? Ou pode ter uma leitura de imposição em vez do estímulo ao aprofundar do conhecimento?", questiona a FAABA, num comunicado enviado à agência Lusa.

Segundo a FAABA, "embora seja reconhecida a emissão de gases de efeito de estufa por parte dos bovinos, também importa salientar que os sistemas de produção desta espécie, associados ao pastoreio, contribuem de forma muito positiva para o sequestro de dióxido de carbono e para o aumento da matéria orgânica e fertilidade dos solos".

Numa intervenção na cerimónia de acolhimento perante centenas de alunos, Amílcar Falcão disse que se "vive um tempo de emergência climática e tem de se colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada".

E a eliminação do consumo de carne nas cantinas universitárias será o primeiro passo para tornar a Universidade de Coimbra "a primeira universidade portuguesa neutra em carbono" até 2030.

De acordo com a FAABA, "vive-se um tempo de emergência climática, sim", mas "declarações infundadas e alarmistas a este respeito colocam em causa o desenvolvimento do setor agrícola no seu todo, a sua rentabilidade, o equilíbrio do espaço rural, a produção nacional e a soberania alimentar do país".

"Declarações infundadas, precipitadas, sensacionalistas, com promoção de inverdades, só porque caem bem na opinião pública, são, no mínimo, escandalosas, para não dizermos puníveis", lamenta a FAABA, reclamando "ética e honestidade intelectual em defesa do setor agrícola" e "empenho político que valorize as boas práticas dos agricultores, porque estes são os principais interessados e estão na linha da frente no combate às alterações climáticas".

A FAABA frisa que "a emergência climática é uma questão científica, mas também política" e "pode tornar-se uma emergência social se não forem criados mecanismos que combatam a falácia e a desinformação".

Segundo a federação, há "estudos de universidades europeias que já fazem referência negativa aos efeitos globais de uma alimentação puramente vegetal" e "reconhecidas organizações internacionais a demonstrar que o consumo adequado de carne é benéfico para a saúde".

Também há "evidência científica que demonstra os benefícios ambientais e sociais da atividade agrícola no combate à desertificação e ao despovoamento rural e à promoção da biodiversidade nos ecossistemas" e "estão comprovadas as mais-valias do pastoreio e das pastagens na prevenção de incêndios, no enriquecimento do solo em matéria orgânica, no seu contributo objetivo para o sequestro de carbono e para as metas da neutralidade carbónica".

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