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Só 30% dos alunos em Portugal acabam o curso no tempo previsto

Só 30% dos alunos em Portugal acabam o curso no tempo previsto
Reuters

Taxa de conclusão no ensino superior em Portugal abaixo da média da OCDE. Dois em cada três estudantes terminam o curso de três anos em seis, conclui o estudo “Education at a Glance 2019”. Já a taxa de doutoramento está entre as mais altas

Apesar de Portugal ter uma taxa de frequência do Ensino Superior elevada, a conclusão dos cursos dentro do tempo previsto continua a ser baixa. Só 30% dos alunos terminam a licenciatura em três anos, abaixo da média de 39% nos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), de acordo com o relatório “Education at a Glance” publicado esta terça-feira.

“A taxa de conclusão dos cursos superiores continua a ser um desafio em Portugal. Só 30% dos estudantes que se inscrevem numa licenciatura terminam o curso em três anos, ou seja a duração expectável desse programa”, lê-se no relatório. Dois em cada três estudantes (65%) terminam o curso em seis anos, o que também fica abaixo da média de 67% da OCDE.

Países como Áustria, Chile, Holanda e Eslovénia registam taxas de conclusão abaixo dos 30%, enquanto o Reino Unido, Irlanda, Lituânia e Israel ficam acima dos 60%. Noruega, Finlândia, Suécia e França são outros exemplos que se posicionam acima da média, rondando os 40% de estudantes a terminar o curso em três anos. O Reino Unido destaca-se como o país com os melhores resultados: cerca de 70% dos alunos acabam o curso em três anos e 85% em seis anos.

A OCDE considera que este indicador reflete a eficácia dos sistemas de Ensino Superior. “Contudo, as baixas taxas de conclusão não significam necessariamente um sistema desadequado, porque os estudantes podem abandonar o curso por várias razões”, refere a organização no relatório. Perceber que fizeram uma escolha errada ou abandonar o curso em troca de uma oportunidade de trabalho são explicações possíveis para estes valores.

12% desistem antes do 2.º ano

O relatório conclui ainda que 12% dos estudantes desistem antes do início do segundo ano de faculdade, em linha com a média da OCDE. A percentagem sobe para 26% de desistências nos seis anos seguintes, ligeiramente acima da média (24%).

O problema é reconhecido pelas instituições de ensino superior, que garantem estar atentas ao problema e a tomar medidas para fazer baixar os números do insucesso. Os programas em prática vão desde um acompanhamento mais próximo aos estudantes por tutores e colegas mais velhos, métodos de ensino mais inovadores e que vão buscar casos reais para tornar a aprendizagem mais concreta até à formação dos professores. Mas é preciso mais, reconhece o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos.

"Reduzir a dimensão das turmas e ter linhas de financiamento para a inovação pedagógica era muito importante. Os públicos que temos hoje no ensino superior são muito mais heterogéneos. E não é a mesma coisa ensinar um jovem que vem do ensino secundário e outro aluno mais velho que até já tem uma atividade profissional. Neste caso, será necessário, por exemplo, ter a capacidade de ter aulas gravadas e uma plataforma onde os recursos estão acessíveis", exemplifica.

O presidente do CCISP lembra ainda que o insucesso não afeta todo o tipo de alunos, nem todas as áreas de estudo da mesma forma, sendo mais elevado nos públicos mais velhos e nos estudantes que entram apenas nas suas terceiras ou quartas opções. "Sabemos que a motivação e as expectativas em relação ao curso são preditores importantes do sucesso. E é também nestes aspetos que temos de trabalhar".

Fontainhas Fernandes, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), destaca ainda outro fator. "O abandono também se deve a razões de ordem financeira, em especial, nos casos de estudantes deslocados", aponta. "Perante esta realidade, as instituições de ensino superior criaram mecanismos, como ocaso do Observatório do Percurso Escolar, visando identificar e apoiar os estudantes com mais necessidades, nomeadamente no primeiro ano de estudos. De igual modo, os gabinetes de saídas profissionais têm acompanhado este assunto, atendendo a que a empregabilidade é determinante para a satisfação dos estudantes."

Contudo, "o subfinanciamento crónico das instituições condiciona a implementação de políticas de qualidade e impede de tomar as medidas de forma eficiente", sublinha o presidente do CRUP. "Embora constante em termos de valores globais, o financiamento das universidades reduziu-se em cerca de 30%, se atendermos ao aumento dos salários e dos encargos sociais, e cada aluno do Ensino Superior custa ao Orçamento do Estado pouco mais de metade do valor médio equivalente na grande maioria países da Europa".

Mais doutorados e mais mulheres

Se o insucesso é um problema por resolver, o relatório também assinala a progressão registada em Portugal no que respeita a qualificações de nível superior, com o país a apresentar uma elevada taxa de matrículas no Ensino Superior: 41% dos jovens com 19 ou 20 anos estão inscritos na faculdade, enquanto na OCDE são 37%.

Olhando para a população entre os 25 e os 64 anos, cerca de um quarto concluiu um curso superior. “Apesar de essa percentagem (25%) ficar ainda muito abaixo da média de 40% da média na OCDE, já representa uma melhoria considerável nas últimas décadas”, diz a OCDE. Entre a geração mais nova (25-34 anos), a taxa era de 35% em 2018, consideravelmente mais alta do que os 14% na geração entre os 55 e os 64 anos.

A proporção de estudantes que optam por fazer um mestrado integrado ou um mestrado também é maior em Portugal. Em 2017, um terço alunos universitários (33%) estava a fazer um mestrado, mais do dobro do que na OCDE (16%). A mesma tendência acontece nos doutoramentos: 6% dos estudantes em Portugal estavam inscritos nestes programas em 2017, acima da média de 2%.

Mais de metade (55%) dos estudantes que se doutoraram em 2017 eram mulheres, uma proporção acima da média. “Ainda que os alunos em Portugal tendam a entrar nos programas de licenciatura e mestrados com menos idade, acabam por entrar em programas doutorais mais tarde do que na maioria dos países da OCDE”, lê-se no relatório. Enquanto a idade média de entrada em doutoramento em Portugal é de 34 anos, nos restantes países ronda os 29 anos.

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