Há vários anos que se conhecem os riscos da Terapia Hormonal de Substituição (THS), tratamento a que se recorre para aliviar os sintomas da menopausa, para a saúde, nomeadamente no que diz respeito ao cancro da mama, mas um estudo publicado na quinta-feira na revista científica “The Lancet” revela que esse risco “é o dobro” do que se pensava e que a THS é causa direta do cancro.
Segundo o estudo, quanto mais tempo as mulheres recorrerem a esse tratamento, maior é o risco de lhes ser diagnosticado cancro, sendo esse risco inexistente apenas no primeiro ano de tratamento. Nos seguintes, e mesmo que a terapia seja interrompida, esse risco mantém-se, ao contrário do que se acreditava até ao momento. E é tão elevado quanto isto — uma em cada 50 mulheres, e mulheres com peso médio que recorrem à forma mais comum desta terapia, isto é, combinando estrogénio e progestogénio todos os dias, durante cinco anos — terá cancro da mama. O risco é o “dobro do que se pensava”, lê-se no estudo, “porque mantém-se até 10 ou mais anos” mesmo depois de o tratamento ter sido interrompido. De acordo com o britânico “The Guardian”, cinco milhões de mulheres recorrerem à THS na Europa e nos EUA são seis milhões.
Citada pelo mesmo jornal, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde (MHRA, na sigla em inglês) do Reino Unido afirmou que as mulheres que estejam ou tenham feito este tratamento devem manter-se “vigilantes, falar com os seus médicos sobre o assunto e garantir que lhes sejam marcados exames”. “As mulheres devem ser informadas sobre estes novos dados, para que possam considerar os riscos e os benefícios da THS”, afirmou Sarah Branch, vice-diretora da referida agência, acrescentando que a terapia pode “ser eficaz na redução dos sintomas da menopausa” mas que nenhum medicamento “está isento de riscos”. A MHRA recomenda que as mulheres tomem estas hormonas “nas doses mais baixas” e “durante um curto período de tempo”. Há décadas que a THS está associada a cancro da mama e, embora de uma forma menos direta, a cancro dos ovários, mas o assunto continua a ser controverso, opondo muitas vezes ginecologistas a epidemiologistas preocupados com os riscos de cancro.
Num estudo publicado em 2004 pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia, intitulado “Consenso & Estratégias para a Saúde da Mulher na Pós-menopausa”, refere-se que na THS combinada “existe um ligeiro aumento de risco de cancro da mama, mas só a partir dos cinco anos de tratamento”. Este aumento, diz o documento, “cessa com a suspensão da terapêutica e regressa aos valores de base após cinco anos de pausa”. Na terapêutica com “estrogénios isolados não foi demonstrado, pelos estudos mais recentes, qualquer aumento do risco de cancro da mama, lê-se no estudo, que salienta que “não há evidência de que nas mulheres de alto risco de cancro da mama a THS constitua factor de risco adicional”.
Os especialistas responsáveis pelo estudo publicado no “The Lancet”, que trabalham em diferentes instituições em diferentes países e integram um grupo de trabalho designado Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer, analisaram dados de outros 58 estudos feitos em todo o mundo e nos quais participaram mais de 100 mil mulheres que foram diagnosticadas com cancro da mama depois de terem iniciado a THS. Também foram analisados dados de mulheres que nunca foram submetidas a essa terapia. Nos países ocidentais, 6,3% das mulheres com peso médio vão desenvolver cancro da mama depois dos 50 anos sem terapia hormonal, percentagem que sobe para os 8,3% no caso das mulheres que recorrem à forma mais comum da terapia. As mulheres que apenas tomaram progestogénio e de forma intermitente correm menos riscos (7,7%), e ainda menos correm as que recorrem apenas a estrogénio (6,8%).
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