Motoristas. "A nossa ideia era uma greve em cima das eleições", diz SIMM
"Há muitas melhorias para os motoristas em 2020". Um dia depois de cancelar a greve, SIMM fala das razões do divórcio com o sindicato dos motoristas de matérias perigosas
"Há muitas melhorias para os motoristas em 2020". Um dia depois de cancelar a greve, SIMM fala das razões do divórcio com o sindicato dos motoristas de matérias perigosas
Jornalista
"Não valia a pena estar na luta ao lado de um sindicato que não estava preocupado connosco", comenta Anacleto Rodrigues, representante do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) um dia depois de ter cancelado a greve iniciada a 12 de agosto em conjunto com o SNMMP - Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas.
Na verdade, esta era uma ruptura anunciado há já algum tempo e no plenário conjunto realizado em Aveiras no passado dia 10, o SIMM já teve de travar a fundo para não abandonar o encontro de motoristas. "Pesou muito o facto da greve já estar em andamento e também a convicção de que os motoristas queriam a greve", conta ao Expresso o dirigente sindical.
Na verdade, a estratégia do SIMM assentava numa greve em cima das eleições, para apanhar o governo em campanha eleitorial. "A nossa luta é com as empresas, não com os portugueses", comenta Anacleto Rodrigues, antes de explicar que o seu sindicato acabou por aceitar a paralisação a partir de dia 12, de acordo com o pré-aviso do SNMMP de Pardal Henriques e Francisco São Bento em nome da unidade.
No entanto, dizem, do outro lado, foi havendo manifestações sucessivas de "deslealdade" e a gota de água para o divórcio acabou por ser a proposta do SNMMP para "mediação" no âmbito da reunião de ontem no ministério das Infraestruturas e da Habitação. "Não nos disseram nada e, de repente, pediram mediação o que significa que estavam a pensar apenas neles, e não consideravam o nosso lado, ou que estavam a falar em nosso nome sem nos consultar", refere.
A tensão já vinha de trás, agravada por uma sucessão de outros factos como estes, até porque o SIMM considera que "há tempos diferentes para apresentar propostas, para discutir e para lutar" e foi apanhado de surpresa por questões de fundo como a alteração das propostas de aumentos salariais em menos de duas semanas.
Aliás, quando Pardal Henriques convocou uma conferência de imprensa no final da semana passada, os dirigentes do SIMM só souberam o que se passava pela comunicação social e tiveram de acompanhar as declarações de Pardal Henriques pela televisão para saber o que ele dizia. "Ainda pensamos que era para desmentir a entrada na lista do PDR (Partido Democratico Republicano) de Marinho Pinto às autárquicas, mas não", recorda o sindicalista.
Mais: O SIMM nunca viu com bons olhos a reivindicação de um estatuto especial para os motoristas de matérias perigosas. Defende a diferenciação positiva já traduzida no subsídio especial de 125 euros, mas diz que "todos são motoristas", até porque ha outros motoristas que têm formação para fazer esse trabalho e às vezes também trabalham com matérias perigosas.
Olhando para o futuro, a direção do sindicato acredita que estão já garantidas "muitas melhorias para os motoristas em 2020", desde logo porque no memorando de entendimento para a revisão do atual Contrato Coletivo de Trabalho do sector já estão consagradas muitas das suas propostas. O próximo passo, agora, é começar a trabalhar nos cenários para 2021 e um dos pontos essenciais na sua luta continua a ser obter garantias de que os motoristas não vão estar sozinhos a fazer cargas e descargas nas superfícies comerciais à noite, obrigados a ativar e a desativar códigos de alarme e a carregar paletes de mil toneladas para câmaras frigoríficas.
Outro ponto fundamental para o SIMM nas negociações com os patrões é o descanso entre viagens. Hoje, diz o sindicato, um motorista de longo curso que chega a casa sexta-feira às 18h tem de partir de novo pelas 15h de domingo, " e estamos a falar de viagens que duram em média 5 a 12 dias", sublinha.
A participação do SNMMP no grupo de trabalho que vai discutir o problema das cargas e descargas é desde já vista como "muito positiva".
Na agenda do sindicato, seguem-se, agora, reuniões da direção, sábado de manhã, para analisar o trabalho feito e definir o que ainda é possível fazer na mesa negocial até à assinatura do Contrato Coletivo de Trabalho. À tarde, na sua sede, em Viseu, será o momento de falar com os associados para tentar explicar as razões que levaram a desconvocar a greve, o que passa pela análise feita à postura do SNMMP ao longo de todo o processo, assim como o que é possível desde já garantir para o próximo ano.
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