Sociedade

Nove salas operatórias fechadas e alguns doentes “ao engano” no São João

Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto
Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto

Sindicato Independente dos Médicos faz um “balanço muito positivo” da adesão à greve naquela unidade hospitalar

O Hospital de São João, no Porto, tem esta terça-feira apenas três das 12 salas de cirurgia a funcionar e algumas consultas foram canceladas, levando doentes a fazer deslocações "ao engano" devido à greve nacional dos médicos.

Os números relativos aos espaços de cirurgias programadas, esta terça-feira encerrados foram fornecidos à Lusa por Maria Antónia Costa, do Sindicato Independente dos Médicos, que fez um "balanço muito positivo" da adesão à greve naquela unidade de saúde, bem como dos números "preliminares a nível nacional, que apontam para 80 a 85%" de médicos em paralisação por melhores condições de trabalho.

Com 89 anos, Maria Amélia saiu esta manhã de Baião, a cerca de 70 quilómetros e 60 minutos do Porto, para uma consulta de dermatologia no 'São João', mas regressou a casa sem passar pelo médico, tendo sido informada que o mesmo tinha feito greve.

"Viemos para aqui enganadas. Não tive consulta. Disseram que não havia médico por causa da greve. Não gosto destes passeios, prefiro estar sossegada", disse a idosa em declarações à Lusa, enquanto aguardava pelo transporte da misericórdia para a viagem até Baião, no interior do distrito.

Artur Faria, de 81 anos, também diz que veio "enganado".

"Desta vez vim enganado. Sabia que havia greve, mas a gente é obrigado a vir. Agora, é esperar [por nova marcação]", acrescentou o idoso, que se deslocou de ambulância de Felgueiras, a cerca de "45 minutos do Porto, se for na autoestrada e se vier a andar bem".

"Tive de mudar a hemodiálise que tinha marcada para hoje, em Felgueiras, para vir à consulta de anestesia e nada feito", descreveu, destacando que já esteve no São João "noutras marés de greves" e foi "sempre atendido".

Já Florbela Fernandes, que se deslocou da Póvoa de Lanhoso para acompanhar um amigo numa consulta, elogiou o atendimento "na hora prevista", frisando que "nem deu para perceber que havia greve".

Maria Rosa, de 74 anos, teve sessão de fisioterapia e encontrou "tudo normal".

Conceição Moreira deslocou-se ao São João para "controlo de sangue" e registou "atrasos no início das inscrições".

"As inscrições costumam começar às 08:00 e hoje só começaram depois das 09:00, porque os funcionários não sabiam se ia haver médicos e só fazem as colheitas de sangue se tiverem a certeza de que eles vêm", descreveu.

Foi isso que acabou por acontecer com a mulher de 68 anos, que quando falou com a Lusa aguardava pelo atendimento médico, já com a certeza de que o clínico não tinha feito greve.

Maria Antónia Costa, do Sindicato Independente dos Médicos, lamentou os últimos "quatro anos de não negociação" com a tutela, explicando que a paralisação dos profissionais de saúde de deve à luta por melhorias da "grelha salarial", pela "contratação de mais médicos" e por "valorizar e dignificar o trabalho médico para melhorar o serviço prestado aos utentes".

De acordo com a médica, os profissionais querem, por exemplo, uma "diminuição das urgências das 18 horas para as 12 horas".

"Ao tirar médicos da urgência, vamos ter mais médicos para fazer consultas e cirurgias, conseguindo assim reduzir as listas de espera", afirmou.

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