Mais de metade da população da Grande Lisboa é católica (55%), mas o número de pessoas que dizem não pertencer a nenhuma religião tem vindo a aumentar significativamente e já ultrapassa os 35%. Ainda que menos católica e 'menos religiosa', a população da Área Metropolitana de Lisboa (AML) continua crente, mostra o estudo sobre identidades religiosas na AML, coordenado por Alfredo Teixeira e que é divulgado esta terça-feira pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS).
Segundo os dados recolhidos neste inquérito, apresentado parcialmente em dezembro do ano passado, um dos grupos que mais têm crescido é o das pessoas que admitem não pertencer a nenhuma religião, mas que creem em algo superior – e que representam agora 13%. São já mais do que as que pertencem a minorias religiosas não católicas (9%) e que fazem da AML o “laboratório da diversidade religiosa em Portugal”.
À semelhança do que acontece no resto do país, a população da Grande Lisboa “é marcada por uma matriz identitária cristã, onde o grupo maioritário é o católico, seguido de outros grupos evangélicos e protestantes”. Mas, resumem os autores, as últimas décadas têm sido caracterizadas por “uma diminuição da maioria histórica dos católicos, uma progressão dos 'sem religião' e uma estabilização, em termos gerais, do conjunto das chamadas minorias religiosas”.
É na AML que estão dois terços dos protestantes (incluindo os evangélicos) e metade das Testemunhas de Jeová residentes em Portugal. “À escala do país, a região apresenta uma singular experiência de diversidade”, lê-se no estudo “Identidades religiosas e dinâmica social na Área Metropolitana de Lisboa”. “Esta diversificação no campo das identidades religiosas é geradora de comunidades distintas, territórios específicos e paisagens múltiplas."
A maior das minorias é a dos evangélicos, que representam 5% da população da Grande Lisboa. O peso dos cidadãos brasileiros neste grupo religioso é significativo e o crescente registo de igrejas evangélicas deve-se, sobretudo, ao "claro crescimento" das novas igrejas urbanas, "caracterizadas por estilos litúrgicos adequados a formas culturais contemporâneas (música, linguagem, etc.)" e que têm atraídos portugueses, "sobretudo das camadas mais jovens”.
As testemunhas de Jeová representam 1,3% de todas as religiões e já há quase tantos budistas (0,7%) como muçulmanos em Lisboa (0,8%). Os budistas, explicam os autores, “são quase na totalidade portugueses ou de países de maioria cristã”, não de países asiáticos. “Isso deve-se ao facto de o budismo ser uma religião cujos princípios se coadunam com as espiritualidades contemporâneas.”
Segundo os autores, que pertencem ao Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião, é nas periferias da AML, "que conheceram um crescimento demográfico e se apresentam mais rejuvenescidas", que as minorias religiosas estão mais representadas.
País tolerante
A par da diversidade está a tolerância. “Não obstante a frequência e aumento da discriminação religiosa a nível global, em Portugal quase não existem restrições à liberdade religiosa ou discriminações religiosas socialmente visíveis, segundo vários relatórios ou estudos internacionais”, apontam os autores. E o estudo agora divulgado confirma-o, concluindo que 91% dos residentes da AML nunca sofreram ou sentiram algum tipo de discriminação baseada na sua posição religiosa.
Entre os restantes 9% que admitem ter sido vítimas de discriminação, os membros das testemunhas de Jeová são os que mais se queixam. “Para além de outros fatores, a isso não deve ser estranho um certo preconceito que emergiu durante o Estado Novo. Em razão da sua objeção de consciência, as Testemunhas de Jeová foram perseguidas e acusadas de atuar contra a segurança estatal”, afirmam os autores. Pelo contrário, os grupos mais predominantes, como os católicos ou os sem religião, são os que menos discriminação sofreram.
O estudo conclui ainda que só uma pequena parte (1,4%) da população da Grande Lisboa entende que frequentar os lugares de culto é uma obrigação. “A crescente autonomia face às instituições religiosas, a par da liberdade crescente no que diz respeito às práticas culturais comunitárias, faz com que as questões religiosas sejam cada vez mais compreendidas como uma opção pessoal e menos como um dever ou obrigação”.
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