Sociedade

Rómulo, o irmão de dois jiadistas mortos na Síria, apanhado em Sintra pela PJ

Rómulo, o irmão de dois jiadistas mortos na Síria, apanhado em Sintra pela PJ

O jiadista fazia parte da chamada célula de Leyton e é suspeito de recrutar portugueses para o Daesh. O Expresso falou com ele em Londres em abril de 2014

Rómulo, o irmão de dois jiadistas mortos na Síria, apanhado em Sintra pela PJ

Hugo Franco

Jornalista

Rómulo, o irmão de dois jiadistas mortos na Síria, apanhado em Sintra pela PJ

Raquel Moleiro

Jornalista

Rómulo, de 35 anos, é o irmão mais velho de dois jiadistas portugueses que combateram pelo Daesh e que foram dados como mortos em combate há já alguns meses, Celso e Edgar Rodrigues da Costa. Foi preso esta segunda-feira numa operação da Polícia Judiciária em Sintra.

Todos cresceram em Massamá (linha de Sintra) e emigraram para Londres há alguns anos, juntamente com outros radicais portugueses.

Na capital inglesa, Rómulo teria duas identidades distintas: a de produtor de música e também de recrutador para a organização terrorista.

Em abril de 2014, o Expresso falou com ele na escadaria da estação ferroviária de Stratford, na zona Leste da capital inglesa. Naquela altura, Rómulo incentivava nas redes sociais a presença dos dois irmãos, bem como de outros elementos da chamada "célula de Leyton", no teatro de guerra na Síria.

Durante a conversa, recusou-se a revelar onde se encontravam Edgar e Celso e negou que pertencessem ao Daesh, apesar de ser evidente pelas fotografias e vídeos partilhados pelos irmãos no Facebook. Acabou por defender em abstrato os apoiantes de um "Islão diferente", sem avançar pormenores. Mas dizia sentir-se bem a trabalhar e a viver em Londres, não equacionando juntar-se a nenhum movimento radical.

Nos meses seguintes, chegou a ameaçar o Expresso devido à publicação de várias reportagens sobre a presença portuguesa no califado. Garantia que Celso e Edgar se encontravam a trabalhar no Dubai mas que estavam incontactáveis.

O Expresso sabe que nessa altura foi interrogado pelas autoridades britânicas que combatem o terrorismo. Mas nunca terá sido detido ou constituído arguido.

O apartamento da família em Massamá é vigiado pela PJ e SIS há vários anos. Suspeita-se que tenha acolhido alguns dos dez jiadistas britânicos que passaram por Lisboa antes de rumarem à Turquia e depois para a Síria, em 2012 e 2013, tal como o Expresso noticiou em primeira mão. O papel dos três irmãos nessas rotas ilegais para a Jihad terá sido preponderante.

Massamá, Monte Abraão e Mem Martins. Estas três localidades eram as zonas onde ficam os apartamentos que receberam nessa altura jovens britânicos antes de seguirem para combate na Síria. Iam sozinhos, com apenas uma mala de roupa na mão.

Hip-hop português em Londres

Nos anos 90, os três irmãos de Massamá dividiam-se entre os jogos de futebol em clubes locais e as bandas de hip-hop e breakdance. "Dos três, Rómulo era o que tinha mais jeito para a bola", conta um treinador de um dos clubes por onde passaram.

A carreira como dançarinos levou-os a vários espetáculos ao vivo e também a um programa de televisão. Celso e Edgar nunca chegaram muito longe mas Rómulo alcançou uma carreira como produtor de hip-hop no Reino Unido. É conhecido pela alcunha de Romy Fansony e tem colaborado com vários luso-descendentes que se dedicam ao rap e hip-hop em Londres.

O mundo da música escondia alegadamente uma vida dupla de recrutador de homens e mulheres para o Daesh, em particular os seus irmãos. Da célula de Leyton, partiram para a Síria os dois manos Rodrigues da Costa, Fábio Poças, Sadjo Ture, Sandro Monteiro e Nero Saraiva. Só o último estará vivo.

A detenção de Rómulo esta segunda-feira pela Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da PJ, na linha de Sintra, coloca-o em prisão preventiva. O comunicado da PJ e da PGR revela que a ação policial ocorreu na madrugada de 16 de junho, efetuando-se em conformidade uma busca domiciliária à residência onde o suspeito se encontrava. "Esta investigação, que ainda prossegue, circunscreve-se essencialmente aos residentes em território nacional dada a relevância processual penal em termos de competências, sendo os casos dos outros nacionais da diáspora tratados diferentemente e em sede própria."

Notícia atualizada às 00h17 de terça-feira

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