Sociedade

Casal lésbico agredido em Londres por ter recusado beijar-se para entreter grupo de homens

“Começaram a comportar-se como hooligans, exigindo que nos beijássemos para que pudessem ver, descrevendo posições sexuais”

Casal lésbico agredido em Londres por ter recusado beijar-se para entreter grupo de homens

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Na noite de 30 de maio, perto da zona de Camden, no norte da capital britânica, um casal lésbico foi agredido por um grupo de homens quando recusou beijar-se para seu entretenimento, um caso que está a provocar uma onda de revolta nas redes sociais. Até porque as duas mulheres não quiseram esconder nem o caso nem as próprias feridas e colocaram a história, e as fotos dos rostos e roupas ensanguentadas, nas redes sociais.

"Quando se sentaram no andar de cima do autocarro foram abordados por um grupo de quatro pessoas que começaram a fazer comentários homofóbicos", disse a polícia em comunicado. "As mulheres foram atacadas, receberam vários socos cada uma e ainda foram roubadas: uma mala e um telemóvel desapareceram durante o tumulto”, lê-se ainda. A polícia acrescentou depois que várias pessoas foram detidas mas não deu mais detalhes.

Uma das mulheres, Melania Geymonat, uruguaia de 28 anos, contou a história, com detalhes, no Facebook:

“Não me lembro se eles já estavam lá ou se foram atrás de nós. Devemos ter-nos beijado ou assim, e eles vieram ter connosco. Havia pelo menos quatro homens. De repente, começaram a comportar-se como hooligans, exigindo que nos beijássemos para que pudessem ver, gritando ‘lésbicas’ e descrevendo posições sexuais. Não me lembro de todo o episódio, mas a palavra ‘tesoura ficou bem presente. No autocarro só estávamos nós e eles. Na tentativa de acalmar as coisas, comecei a fazer piadas, pensando que isso os poderia acalmar um pouco. A Chris até fingiu que estava doente, mas eles continuaram com o assédio, atiraram-nos moedas. Estavam cada vez mais entusiasmados com a situação”.

“Quando dei por mim a Chris estava no meio do autocarro a lutar com eles. Saltei do banco num impulso e fui lá, apenas para encontrar o rosto dela cheio de sangue e três dos homens a baterem-lhe. Logo depois começaram a bater-me também. Fiquei tonta quando vi o meu sangue e caí. Não me lembro se perdi ou não a consciência. De repente, o autocarro parou, a polícia estava lá quando acordei e eu tinha sangue por todo o lado. As nossas coisas tinham sido roubadas. Não sei ainda se parti o nariz, não fui capaz de voltar ao trabalho, mas o que mais me irrita é que a violência tornou-se uma coisa comum, e às vezes é necessário ver uma mulher a sangrar depois de ter sido espancada para conseguirmos algum tipo de impacto na sociedade.”

“Estou cansada de ser considerada um objeto sexual, de descobrir que essas situações são comuns, de amigos gays que foram espancados só porque sim. Nós temos de suportar o assédio verbal e violência chauvinista, misógina e homofóbica, porque quando tentamos defender-nos coisas assim acontecem.”

Esta sexta-feira, os números de partilhas deste relato estava nos 11 mil e mais de seis mil pessoas tinham comentado a fotografia de Melania. Um das reações condenatórias veio do presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, que escreveu no Twitter: “Este é um ataque horrível e misógino. Crimes de ódio contra a comunidade LGBT+ não serão tolerados em Londres”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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