5 maio 2019 14:00

O streaming revelou-se imparável como forma de consumo de música. Já são mais de 400 milhões de utilizadores
5 maio 2019 14:00
Leu algures que existe um renascimento do vinil? Também tem a impressão de que há um ressurgimento das velhas cassetes? Não se deixe enganar, os formatos físicos para consumo de música há muito que entregaram a alma ao criador. Se hoje ainda existem, tal deve-se a um culto que não tem qualquer expressão no grande negócio da música. Segundo as últimas estatísticas da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), o vinil não representou mais do que 3,6% dos 19,1 mil milhões de dólares (cerca de 17 mil milhões de euros) arrecadados pelas editoras discográficas em todo o mundo no ano passado. Não é apenas o vinil que é residual, o número de discos compactos vendidos é cada vez menor e, em 2018, não representaram mais de 20% do total de receitas a nível mundial. Os downloads de música, sobretudo iTunes, caem a uma taxa entre 20% a 30%, o mesmo sucedendo com o CD, que apesar de resistir em mercados relevantes como o Japão ou a Alemanha, também conhece uma trajetória descendente.
A boa notícia no que respeita ao consumo de música vem, por estes dias, de um lado: os serviços de streaming. As receitas de operadores como o Spotify, Apple Music, a chinesa Tencent (15 milhões de utilizadores) ou Amazon Music já representam 34% do total do negócio, dando conta de um crescimento que constituiu a salvação da indústria discográfica que, lembre-se, passou os 15 primeiros anos deste século em queda consecutiva. Por volta de 2015, consoante os territórios, dá-se a grande mudança e o negócio voltou a crescer. A razão é simples, os consumidores aceitaram por fim um novo sistema: uma forma de fruição da música que não exige a propriedade do formato e que, em grande medida, foi capaz de acabar com a pirataria. No final de 2018, a IFPI estima que já existiam 255 milhões de utilizadores de assinaturas pagas de serviços de streaming.
A mudança de hábitos dos consumidores de música tem sido notória no último lustro, sendo vulgares as taxas de crescimento anuais destes serviços com dois dígitos. Não foi por isso com grande surpresa que esta semana se assistiu ao anúncio, por parte do Spotify, da sua chegada aos cem milhões de utilizadores com assinatura paga. Um valor que representa um crescimento de 32%, ou seja, mais 25 milhões de clientes face ao mesmo período do ano anterior para esta companhia fundada na Suécia e que em Abril de 2018 entrou na Bolda de Nova Iorque. No primeiro trimestre de 2019, o Spotify já reportou uma faturação de 1,51 mil milhões de euros. Mas a guerra por este novo negócio está assanhada. No mesmo momento, a empresa liderada por Daniel Ek aproveitou para informar que a Apple Music, o seu principal concorrente, não tinha mais do que 50 milhões de assinantes.
E, na verdade, o número total de utilizadores do Spotify é bastante superior pois mais do dobro dos seus clientes utiliza o serviço livre: ou seja, nada pagam mas são obrigados a ouvir música intercalada com spots de publicidade. Segundo esse mesmo relatório do Spotify, onde eram apresentadas as contas do primeiro trimestre deste ano, existem outros 217 milhões de utilizadores que usam o serviço gratuito. Em dezembro, o “Financial Times” anunciava que a Apple Music tinha um total de 56 milhões de assinantes, não distinguindo entre assinaturas pagas e serviço gratuito, o que oferece uma estimativa do bom êxito da música em streaming. Cerca de 400 milhões de utilizadores em todo o mundo podem dar bem a ideia do êxito de uma nova forma de aceder à música surgida há relativamente pouco tempo — em Portugal, onde uma assinatura individual custa €6,99 por mês e uma familiar orça em €10,99, o Spotify surgiu em fevereiro de 2013.
Apesar da boa nova — quer para editoras discográficas quer para os consumidores — os serviços de streaming têm suscitado inúmeras críticas. Os músicos e autores queixam-se dos reduzidos valores que lhes são entregues e mesmo entre os consumidores começam a surgir questões quanto ao uso dos seus dados (como a morada) ou a inexistência de algum reportório. O bom sucesso desta nova forma de consumo de música afigura-se, contudo, imparável nos próximos anos sendo muito pouco provável que tudo volte atrás. Como termo de comparação, note-se que a Netflix — a companhia de streaming para filmes e séries que lidera este mercado — anunciou em meados de abril possuir 148,8 milhões de assinantes. Os seus concorrentes são a HBO, Apple, Disney e outros dispostos também a transformar o consumo de vídeo nos nossos dias.