Caso do triatleta. Amantes planearam o homicídio e as férias do verão ao mesmo tempo
Ministério Público quer ouvir 44 testemunhas no caso. Filho menor do triatleta e de Rosa Grilo ficará à guarda de uma tia paterna
Ministério Público quer ouvir 44 testemunhas no caso. Filho menor do triatleta e de Rosa Grilo ficará à guarda de uma tia paterna
Rosa Grilo e António Joaquim planearam o homicídio de Luís Grilo e simultaneamente as férias, em agosto de 2018, em Vilar de Mouros e no parque de campismo da ilha do Pessegueiro, em Porto Covo. Um dia antes do homicídio, o amante de Rosa Grilo comprou dois bilhetes online para o festival de rock. E no próprio dia em que terão assassinado o triatleta, a 15 de julho do ano passado, António Joaquim marcou um T0 para os dois no camping da Costa Vicentina.
De acordo com a acusação do DIAP de Vila Franca de Xira, a que o Expresso teve acesso, os amantes acabaram mesmo por cumprir o calendário das planeadas férias, um mês depois do crime. E mais: viveram juntos e fizeram outros programas dias após a alegada execução do homicídio.
O despacho de acusação conta que os dois arguidos, de 43 anos, trocaram 22 mensagens escritas em três minutos no próprio do homicídio (das 19h02 às 19h05 de 15 de julho de 2018), "combinando os últimos detalhes relativos ao plano por ambos delineado para tirar a vida de Luís Grilo". Depois disso, decidiram desligar os respetivos telemóveis, algo que fizeram nos minutos seguintes. No dia 16, os arguidos voltaram a manter constante contacto telefónico, tendo trocado 34 mensagens para decidir o que haveriam de fazer com o telemóvel da vítima e "que conduta adoptar para tentar criar a aparência" de que Luis Grilo ainda estaria vivo.
Rosa Grilo ficou com o telemóvel do marido para continuar a responder às mensagens que chegavam ao telemóvel deste e assim "não levantar suspeitas" sobre o seu desaparecimento. Chegou a enviar mensagens no Whatsapp, do telemóvel de Luis Grilo, tentando combinar um jantar de aniversário para um dos amigos do casal.
De acordo com o despacho, entre as 19h42 de 15 de julho e as 9h00 do dia seguinte, os dois executaram o plano que já haviam desenhado "há, pelo menos, sete semanas". António Joaquim, na posse de uma arma de fogo com "pelo menos uma munição", dirigiu-se à habitação onde residiam Luís Grilo e Rosa Grilo, na localidade das Cachoeiras, concelho de Vila Franca de Xira. Quando chegou, os dois arguidos foram até ao quarto dos hóspedes, onde Luís Grilo dormia nesse momento. António Joaquim terá então apontado a arma na direção do corpo de Luís Grilo e efetuado um disparo, “atingindo o crânio deste”, descreve o MP, segundo o qual os amantes, "por terem dúvidas se Luís Grilo estaria morto, desferiram pancadas com objeto não concretamente apurado na face" do triatleta.
Depois disso, para evitar que o sangue escorresse para a cama, colocaram um saco de plástico à volta da cabeça de Luis Grilo, e amarram-no com uma corda à volta do seu pescoço. O MP ouviu ainda que os arguidos terão também colocado um outro saco embrulhado na perna direita de Luis Grilo, onde este tinha uma tatuagem, para “acelerar a decomposição dessa zona do corpo, dificultando a identificação do cadáver pelas autoridades”.
Os arguidos despiram depois o cadáver e dirigiram-se para um terreno rural a 20 quilómetros da localidade de Benavila, concelho de Avis, distrito de Portalegre, onde os pais de Rosa Grilo têm uma habitação. No início do mês de junho, mais de 30 dias antes do homicídio, “os dois arguidos já tinham percorrido a estrada nacional que liga as localidades de Pavia a Avis junto da qual veio posteriormente a ser localizado o cadáver de Luis Grilo”, lê-se na acusação.
O corpo foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição, mais de um mês depois do desaparecimento e a mais de 160 quilómetros da sua casa. No entender do MP, Rosa Grilo e António Joaquim decidiram matar Luís Grilo para assumirem a relação extraconjugal que mantinham e ficarem com todos os bens decorrentes da morte do triatleta, nomeadamente 500.000 euros em indemnizações de seguros.
António Joaquim, acredita o MP, cometeu este crime por pensar que viria a beneficiar de uma posição de gerente nos negócios das sociedades comerciais de que Luís Grilo era gerente, bem como dos valores indemnizatórios a serem pagos pelos seguros de vida de que Rosa Grilo e o filho. A habitação comum do casal e todo o dinheiro depositado em contas bancárias de que Luis Grilo era titular também terão funcionado como aliciantes.
Os procuradores pretendem ouvir 44 testemunhas, entre elas o filho de 14 anos do casal e outros membros da família. O rapaz irá ficar a viver com uma tia paterna pelo menos nesta fase incial do processo.
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