Sociedade

Ilga apresenta queixa na ERC contra Manuela Moura Guedes

Ilga apresenta queixa na ERC contra Manuela Moura Guedes
JOÃO LIMA

Em causa estão as declarações da comentadora esta segunda-feira no Jornal da Noite da SIC

Ilga apresenta queixa na ERC contra Manuela Moura Guedes

Carolina Reis

Jornalista

A ILGA vai apresentar queixa na Entidade Reguladora da Comunicação contra a comentadora Manuela Moura Guedes por esta ter promovido a "desinformação" na forma como esta segunda-feira, no seu espaço de comentário no Jornal da Noite da SIC, se referiu às pessoas intersexo e à ação de formação dada por uma associação LGBTI numa escola do Barreiro.

"Nos últimos anos, o trabalho incansável das Organizações Não Governamentais de Direitos Humanos - que funcionam maioritariamente sem recursos e com o apoio indispensável de pessoas voluntárias - tem sido essencial para garantir que vivemos numa sociedade mais igualitária. Este trabalho não se faz só com reuniões parlamentares para alterar as leis. Este trabalho implica o diálogo constante com a sociedade civil. Na ausência de mecanismos governamentais para que tal aconteça, cabe grandemente a estas associações substituírem-se ao Estado numa responsabilidade que é de tod@s: o apoio às muitas vítimas da homofobia e da transfobia e a garantia de que as pessoas LGBTI podem viver em igualdade, protegidas da violência e do insulto, longe do isolamento, do silêncio e da vergonha. Descredibilizar esta ação e promover a desinformação e a fuga à verdade – ainda mais sem o devido contraponto - num programa informativo de âmbito nacional e de grande alcance é colocar em causa longos anos de conquistas pela igualdade no nosso país, numa clara contradição dos princípios que regem a atividade jornalística", diz a associação de defesa dos direitos das pessoas LGBTI em comunicado.

"O I é a ideologia, é intersexo. Intersexo é o tal it, não sabes, tu não és definido biologicamente, tu és aquilo que tu quiseres ser. É uma construção social que é uma tolice", disse Manuela Moura Guedes. Ao Expresso, a 'procuradora', como é conhecida no seu espaço de comentário, disse que estava a comentar e que tinha direito à opinião. "Tenho direito à minha opinião. É surpreendente que uma associação como a ILGA, que defende a liberdade de orientação sexual, não defenda a liberdade de expressão."

No ano passado, o Parlamento aprovou a nova lei da identidade de género, na qual ficaram proibidas as cirurgias intersexo em bebés à nascença (situações em que as crianças nascem com os dois genitais ou com características físicas dos dois sexos e são os pais que escolhem qual o género com que devem ficar), a não ser que sejam necessárias por motivos de saúde. Intersexo é um conceito reconhecido pela Ordem dos Médicos e pela Organização Mundial de Saúde.

A ILGA anunciou também que, "tendo em conta a gravidade" das declarações, irá pedir um direito de resposta."A desinformação, a discriminação e o discurso de ódio não podem mais ter lugar em canais públicos ou privados de comunicação. Em qualquer circunstância e em qualquer formato, há que denunciar sempre, seja junto das autoridades competentes, seja no nosso Observatório da Discriminação." Contactado pelo Expresso, Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, não fez comentários.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: cbreis@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate