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Dia Mundial do sono. “Tudo o que precisamos de saber sobre o sono está no Alcorão, na Torá e na Bíblia”

Dia Mundial do sono. “Tudo o que precisamos de saber sobre o sono está no Alcorão, na Torá e na Bíblia”
Sean Gallup/Getty images

Associação Portuguesa do Sono promove conversa sobre o sono e a religião no Dia Mundial do Sono e a ideia é olhar para os livros sagrados e deles retirar e divulgar certos ensinamentos. É que embora o interesse pelo sono e a sua privação tenha vindo a aumentar “nos últimos cinco anos”, os portugueses “continuam a dormir pouco e a dormir mal”, sublinha Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono

Dia Mundial do sono. “Tudo o que precisamos de saber sobre o sono está no Alcorão, na Torá e na Bíblia”

Helena Bento

Jornalista

A “culpa” é de Thomas Edison que inventou a lâmpada incandescente e “pôs-nos a trabalhar durante 24 horas por dia” e “estragou isto tudo”. Mas está feito, não há como retroceder e, portanto, resta “minimizar os danos”. Como? Recorrendo, por exemplos, aos “grandes livros proféticos”, como o Alcorão, a Torá e a Bíblia. “Tudo o que precisamos de saber sobre o sono e a sua importância, bem como as regras para ter uma noite de sono de qualidade, está lá”, diz ao Expresso Joaquim Moita, presidente da Associação Portuguesa do Sono (APS). Esta sexta-feira, dia 15, comemora-se o Dia Mundial do Sono e a associação a que preside irá promover em Coimbra uma conversa sobre o sono e a religião no Auditório do Conservatório de Música de Coimbra (16h30).

No colóquio, intitulado “Dormir bem, envelhecer melhor”, participam o líder da comunidade muçulmana, Sheik David Munir, um crente e estudioso de teologia católica, Isaías Hipólito, um crente hebraico e antigo presidente da Câmara Municipal de Castelo de Vide, Carolino Tapadejo, Cláudia Cavacas, investigadora no Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra, e o próprio presidente da APS. A ideia é olhar para os livros sagrados de três grandes religiões e deles retirar e divulgar certos ensinamentos — ou “preceitos”, como diz Joaquim Moita —, sobre o sono. “Tanto na Torá, como na Bíblia e no Alcorão é dada uma grande importância ao sono. Há muitas referências ao sono, à ideia de que a noite precede o dia, à posição correta de dormir, de lado e não de barriga para cima, às fases do sono, e à importância da sesta e também do ritmo do sono e de vigília, que está em harmonia com a natureza”.

A oração do final do dia também está muito presente nos três livros, “podendo isso representar a necessidade de cortar com os problemas antes de ir para a cama”, algo para que a APS tem vindo a chamar a atenção ao longo dos últimos anos. “É preciso cortar, cortar, cortar. Cortar com os problemas antes de ir dormir, através de técnicas de relaxamento, como o yoga ou o simples ato de apontar num papel as preocupações e tentar resolvê-las apenas no dia seguinte.” No Hadith, em concreto, o livro que compila as frases do profeta Maomé, “refere-se que uma hora e meia, duas, depois do pôr do sol, não deve haver mais discussões e que o dia é para trabalhar e a noite é para dormir e descansar”. Tanto os “crentes como os não crentes”, continua o presidente, “têm aqui matéria suficiente para aprender a respeitar a importância do sono e cumprir regras que são tidas como fundamentais”.

Embora o interesse pelo assunto tenha vindo a aumentar “nos últimos cinco anos”, os portugueses “continuam a dormir pouco e a dormir mal”, sublinha Joaquim Moita. “As regras para ter um sono de qualidade, como acordar e deitar sempre à mesma hora, procurar o sol antes de ir trabalhar ou antes de ir para a escola, evitar à noite, na cama, a luz azul dos dispositivos eletrónicos, não são respeitadas.”

Citando um estudo recente elaborado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia, segundo o qual mais de metade dos portugueses dorme menos de seis horas por noite, Joaquim Moita chama a atenção para as consequências da privação de sono, a curto e a longo prazo — diminuição da produtividade, sonolência, dificuldades de raciocínio e de tomar decisões. A privação de sono está também associada a várias doenças médicas, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro.

Thomas Edison criou a primeira lâmpada e hoje em dia trabalha-se durante 24 horas e “30% da população mundial trabalha por turnos e 10% tem um trabalho noturno”, retoma Joaquim Moita, para quem, no entanto, há “muitas formas de minimizar os estragos”. “Há coisas que são inevitáveis, que fazem parte dos tempos modernos, como dizia Chaplin, mas há outras que podemos evitar. É isso que queremos que as pessoas percebam.”

Durante o colóquio, vão ser ainda entregues os prémios do concurso “Dormir bem, envelhecer melhor”, que a APS promoveu em parceria com CNC junto dos alunos das escolas de todo o país. Haverá também uma conversa sobre os cuidados a ter com o sono desde a infância até à idade adulta e será apresentada uma performance teatral “inspirada” na Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono, uma perturbação respiratória que leva a que se tenha sucessivas paragens respiratórias durante o sono. De todos os distúrbios do sono diagnosticados, é considerado dos mais graves devido ao risco de doença cardiovascular que lhe está associado.

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