Sociedade

Comissão de Saúde vai ouvir representante dos pais das crianças internadas em contentores no Hospital São João

Comissão de Saúde vai ouvir representante dos pais das crianças internadas em contentores no Hospital São João
Rui Duarte Silva

Deputados vão ouvir, esta quarta-feira, Jorge Pires sobre as condições de assistência dos menores internados em contentores. Líder da Associação Pediátrica Oncológica acusa Ministério da Saúde de empurrar o problema para a frente ao fazer tábua rasa do projeto de construção do novo centro pediátrico do Hospital de São João contratualizado pelo anterior Governo

Comissão de Saúde vai ouvir representante dos pais das crianças internadas em contentores no Hospital São João

Isabel Paulo

Jornalista

Três semanas após o Governo ter autorizado a administração do Hospital São João a lançar “procedimentos concursais” para a conceção e construção das novas instalações do Centro Pediátrico, a Comissão Parlamentar de Saúde decidiu ouvir, na quarta-feira, pelas 11h30, o porta-voz dos pais das crianças internadas em contentores, “instalados já há quase uma década e previstos para durarem três anos”. Jorge Pires diz que o convite partiu da 9.ª Comissão de Saúde, tendo por objetivo a avaliação das reais condições em que os doentes se encontram internados.

O líder da recém-criada APOHSJ - Associação Pediátrica Oncológica, pai de um dos pacientes em tratamento, afirmou ao Expresso que as más condições do serviço de internamento mantêm-se, “tal como foi denunciado em abril” e que o próprio presidente do Conselho de Administração considerou indignas. Jorge Pires lembra que o inverno está à porta, temendo que se agravem os problemas de infiltrações e humidade nos quartos das crianças em tratamento.

No depoimento aos deputados, o porta-voz dos pais avança que quer chamar a atenção para a necessidade de um ajuste direto que viabilize de forma urgente a construção da nova ala pediátrica, através da recuperação do projeto aprovado entre o Governo de Passos Coelho, o anterior Conselho de Administração do Centro Hospitalar São João e a associação 'Um Lugar para o Joãozinho'. “Há um contrato assinado que não caducou, obras iniciadas e um projeto que pode ser adaptado às novas exigências sem mais delongas”, refere Jorge Pires, que alerta que o despacho do Governo de fazer tábua-rasa do contrato em vigor é delapidar os €700 mil já investidos no projeto de arquitetura e “condenar as crianças a mais quatro ou cinco anos de internamentos em condições de risco”.

Para Jorge Pires, o despacho governamental é “um nim, um retrocesso à estaca zero”, razão pela qual a APOHSJ está a mobilizar os cidadãos do Porto e Norte para um cordão humano em torno do Hospital de São João. “A adesão está a ser enorme e a iniciativa irá realizar-se muito em breve”, frisa, garantindo que os pequenos pacientes do São João “não vão deixar cair no esquecimento o recuo de uma obra urgente para a cidade e para a região”.

“Não vamos deixar morrer as nossas crianças por atos de cegueira política e burocrática”, garante Jorge Pires, que lamenta que os deputados eleitos pelo círculo do Porto, os políticos do norte e o presidente da Câmara do Porto não tenham “dado a cara pela causa do São João e repudiado os atrasos sistemáticos na construção de um novo centro pediátrico que se arrasta há quase 10 anos”. Para agilizar a obra, a APOHSJ equaciona ainda criar um movimento cívico de luta em prol da ala pediátrica do São João. “Será um movimento apartidário que defenda o país real, aquele que fica fora do perímetro de Lisboa e vale do Tejo”, refere Jorge Pires, que diz saber do que fala após ter vivido alguns anos em Lisboa, onde reside a maioria dos familiares.

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