* (e se você queria ter uma palavra a dizer sobre a mudança da hora, já não pode)
Temos um relógio biológico interno ou circadiano que nos ajuda a adaptar ao ritmo regular do dia, isto é, ao movimento de rotação da Terra. Este ritmo circadiano é o período de 24 horas em que se baseia o nosso ciclo biológico. É por termos este mecanismo que acordamos e dormimos, produzimos hormonas a determinadas horas e revelamos outros comportamentos, influenciados por variações da luz natural, temperatura da atmosfera, marés e ventos entre o dia e a noite. Isto tem importantes implicações na nossa saúde e bem-estar, na temperatura do corpo, na pressão sanguínea, no metabolismo.
Por isso mesmo, não somos indiferentes a um desfasamento entre a hora solar e a hora legal. Esta é uma das questões a ter em conta no atual debate europeu sobre a mudança da hora. Esta quinta-feira, 16 de agosto, terminou precisamente o prazo da consulta pública online lançada pela Comissão Europeia a 4 de julho para saber se os cidadãos da UE concordam ou não com a hora no verão. Tudo porque há especialistas e estados-membros, como a Finlândia ou a Lituânia, que dizem já não fazer sentido a manutenção deste sistema, porque está a causar distúrbios de sono na população, a reduzir a produtividade e pode dar origem a problemas de saúde a longo prazo. Por outro lado, a poupança de energia tantas vezes referida como uma das vantagens do sistema é marginal, muito inferior a 1%.
Ainda não se sabe quando serão divulgados os resultados desta consulta popular, que terminou esta quinta-feira. “Não vão ser vinculativos, mas meramente indicativos, porque a consulta não se baseia em métodos científicos”, explica Rui Agostinho, diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), a entidade pública responsável pela Hora Legal em Portugal. Mas a Comissão Europeia “vai recorrer também a pareceres técnicos de entidades ligadas aos transportes, ao comércio internacional ou à saúde, entre outros”. E os estados-membros da UE serão igualmente consultados.
“O nosso corpo responde à luz do Sol”
Mas uma coisa é certa: “o nosso corpo responde à luz do Sol - e não ao que diz o relógio”. O astrónomo defende o atual sistema europeu de mudança da hora duas vezes por ano – em março e em outubro –, “porque é o que traz mais bem-estar à generalidade das pessoas”. E acrescenta que “a hora legal mais próxima da hora solar é a do inverno”.
Em todo o caso, acha que “a mudança para a hora de inverno devia ser feita no final de setembro, e não no final de outubro, para maximizar o número de horas diárias de luz natural”. A UE “acabou por ir atrás dos ingleses quando negociou esta questão nos anos 80 do século passado, por motivos relacionados com compromissos políticos, porque não há nenhuma justificação científica para esta opção”, argumenta o diretor do OAL.
É curioso que uma das cidades da UE onde o meio-dia solar é igual ao meio-dia legal no inverno é Berlim, capital da Alemanha, situada no fuso horário 1 (mais uma hora contada a partir do Meridiano de Greenwich). E todas as cidades próximas beneficiam deste privilégio.
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