“Não acabou? Tem de acabar. Eu quero o fim da polícia militar”, gritou-se esta segunda-feira em Lisboa, numa manifestação de homenagem à vereadora e ativista brasileira Marielle Franco, assassinada a tiro no Rio de Janeiro. Um assassinato dois dias depois de ter denunciado nas redes sociais que dois jovens tinham sido vítimas mortais da Polícia Militar, no bairro Acari.
O Largo de Camões, em Lisboa, encheu-se ao fim da tarde. Algumas centenas de pessoas, cerca de 300, reuniram-se para defender o direito à Justiça, denunciar a execução de Marielle Franco, pedir o afastamento da Polícia Militar das ruas do Rio de Janeiro e dizer que a morte da deputada, ativista, “negra e favelada” - como a própria gostava de se apresentar - não foi em vão. Marielle presente, era o mote da manifestação. Gritava-se também “abaixo o fascismo” e “fora Temer”.
“Quem matou Marielle?”, perguntava-se. A manifestação foi convocada pela associação brasileira Coletivo Andorinha e contou com o apoio de associações feministas como a “Todas por nós”. Entre os manifestantes estavam figuras públicas, artistas e políticos, como Catarina Martins e Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.
“A Marielle não é vítima da violência urbana. Tudo indica que foi vítima do ambiente criado pela intervenção federal da polícia militar. Governo de Temer criou um estado de exceção e tem a polícia militar nas ruas do Rio de Janeiro”, afirma Gisele Navarro, membro do Coletivo Andorinha. Marielle era uma voz ativa na denuncia da violência das autoridades policiais nos favelas e nas ruas do Rio de Janeiro.
A morte de Marielle, admite Gisele, resulta não só da denúncia que fez das execuções que estão a ser feitas pelas forças militares e policiais, mas também por ser uma ativista negra e feminista das periferias. “Marielle representa a população negra e pobre, que juntamente com os índios, são os mais atacados pela violência. O alvo tem sido a comunidade pobre, e as mulheres negras são as mais atingidas”, lamenta Gisele.
Aliás uma das frases de ordem da manifestação era:”Chega de hipocrisia. Essa polícia mata pobre todos os dias”.
Sociedade refém do medo
“Estou aqui solidária com o povo brasileiro que está refém do medo. A Marielle era uma voz que lutava contra esse medo, uma exceção. Pelas suas origens, mulher negra da favela, Marielle não tinha medo e lutava por algo que no Brasil se está a esquecer: um direito fundamental, que é o direito à justiça”, afirmou a cineasta Margarida Leitão, presente na manifestação. “O medo está instalado na sociedade brasileira. E em todas as classes. Marielle era uma voz de esperança e temos de estar presentes por ela”, frisou Margarida Leitão.
Gisele concorda. “No Brasil as pessoas estão com medo porque há repressão e isso sente-se nas ruas. É grave. A justiça brasileira está comprometida. É difícil ter acesso aos processos judiciais”, diz.
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