Ao sétimo país vive com 13 horas de luz todos os dias
Vivem 47,6 milhões de pessoas no Quénia e só em Nairobi vivem 4 milhões
Thomas Mukoya/REUTERS
O Quénia é o sétimo país onde Octávio Vieira está a viver e o quarto dos últimos cinco anos. Dele destaca a paisagem alucinante e o perfeito equilíbrio entre desenvolvimento e natureza. Se no Níger viveu com 50ºC e no Haiti com a extrema pobreza, agora encontrou o sítio onde viver com a mulher e a filha de 16 meses. Esta é a quinta história da segunda série “Em Pequeno Número” que o Expresso começou a publicar há dois anos e que relata as histórias de portugueses que vivem em regiões onde quase não os há
Afeganistão, Iraque, Kosovo, Timor-Leste, Níger e Haiti antecederam a chegada de Octávio Vieira ao Quénia. Quando aterrou em Nairobi a 2 de setembro tinha pela frente uma cidade sem frio, com 4 milhões de habitantes e 13 horas de luz todos os dias.
“O Quénia foi e é uma enorme surpresa pela positiva, tem um clima assombroso, nunca há frio nem calor excessivo, é sempre Primavera. Tem uma capital lindíssima e desenvolvida, com uma diversidade étnica, cultural e religiosa impressionante”, ”, conta o português, de 51 anos. A razão que o levou para o Quénia – o sétimo país onde já viveu e o quarto dos últimos cinco anos – foi ter sido selecionado para uma posição da União Europeia, ligada à Política de Segurança e Defesa Comum e aos Serviços Europeus de Ação Externa. Faz parte de uma missão que tem três gabinetes na Somália e um de apoio em Nairobi, onde trabalha.
Quando saiu do avião, a temperatura amena às três da manhã impressionou-o e na chegada à cidade viu edifícios “enormes e bonitos”, estradas largas e bem conservadas. “Parecia que continuava na Europa mas numa grande capital europeia e moderna.”
Vista da janela de casa de Octávio Vieira e da família em Nairobi
Carina Franco/DR
Na missão da UE em Nairobi, Octávio desempenha funções de ‘transport manager’, uma área de logística onde tem desempenhado funções nas várias missões, tanto no Exército como ao serviço da UE, por onde passou desde 1999. Neste momento é responsável pela gestão de transporte terrestre e aéreo, como os voos ao serviço da UE entre o Quénia e Somália, para além dos veículos ao serviço da missão.
E ainda que em setembro tenha aterrado sozinho na capital do Quénia, hoje já partilha os dias com a mulher e filha de 16 meses que deixaram Portugal em dezembro. “A nossa filha já tem jardim-escola a partir de janeiro e a Carina tem boas perspetivas para também começar a trabalhar aqui.” Para Carina Franco, esta é a primeira vez que está no Quénia, mas para trás estão as experiências de trabalho no Afeganistão e no Níger que, aliás, os levaram a conhecerem-se.
Um país onde as famílias querem viver
Octávio diz conhecerem já outros portugueses e alguns deles chegaram depois de setembro. “Também eles continuam excitados, impressionados, surpreendidos tal é a qualidade de vida e beleza desta cidade e país de oportunidades. A quantidade de amas é impressionante porque se veem muitas famílias, dos mais variados países, que querem viver aqui e fixarem-se com os filhos.” Segundo a Direção Geral de Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, no final do ano passado, o Quénia tinha 906 portugueses registados no consulado.
O Quénia tem 47,6 milhões de habitantes e um quarto da população vive em zonas urbanas. A taxa de desemprego chegava aos 40% em 2013, segundo os dados do World Fact Book. E no ano passado quase metade do produto interno bruto do Quénia vem dos serviços (47,3%). Há também pequenas indústrias como do plástico, mobiliário, baterias, têxteis, sabão, cigarros ou farinha que ocupam uma parte da população. Quanto à religião, a maioria da população é cristã (83%), entre os quais quase metade são protestantes e 23% católicos.
Darrin Zammit Lupi/Reuters
4 milhões de pessoas em Nairobi
Octávio vê muita riqueza em Nairobi e uma classe média facilmente identificável pelos negócios que se desenvolvem no país diariamente. “Existem comunidades chinesas e indianas muito fortes, bem como muitos somalis e sul-africanos nos mais variados negócios.” O maior quartel-general nas Nações Unidas está precisamente no Quénia, em Gigiri. “Estamos a falar de milhares de membros. E em Karen vive uma enorme comunidade do Reino Unido, na sua segunda ou terceira geração. É uma zona de vegetação ainda mais luxuriante, casas e de sonho em quintas de sonho.”
É também em Karen que existem vários parques nacionais, casas de artesanato suaíli, orfanatos de elefantes e de giradas. “Também é onde se situam alguns dos melhores restaurantes de Nairobi.” Octávio conta que há restaurantes de muita qualidade e diversidade: franceses, italianos, indianos, etíopes, libaneses e até brasileiros.
SIMON MAINA/REUTERS
Tendo em conta o movimento que uma cidade de 4 milhões de habitantes tem todos os dias, Octávio começa a trabalhar às sete da manhã. “O nosso edifício situa-se a 4,5 km de casa e assim conseguimos evitar o enorme trânsito que se faz sentir todos os dias. Temos os nossos veículos e demoramos cerca de 10 minutos para chegar ao trabalho.”
O dia de trabalho acaba às 16h – “um horário ótimo e com muito dia pela frente”. Para além disso, descreve um ambiente de trabalho “sem stress, com companheirismo, entreajuda e motivação”. Nos tempos livres, aproveitam também para visitar os parques nacionais. “Uma das fontes de rendimento do Quénia é precisamente o turismo e opções não faltam. A comunidade sul-africana é que gere este tipo de negócios.”
Um dos safaris que Octávio já visitou com a família
Carina Franco/DR
Octávio Vieira está satisfeito com o país onde agora vive com a família. “O ar é limpo, não há poeira e mesmo quando chove sabe bem. Não há frio, nunca. Quando recordo o frio que deixámos e Lisboa e como andamos sempre com roupa ligeira e de verão aqui, só posso estar feliz.” E sem comparação com o Níger e o Haiti: no Níger, as temperaturas rondavam os 45-50ºC durante o dia e os 30-35ºC durante a noite. “Era um sufoco, com tempestades de areia e pobreza máxima. No Haiti, a mesma situação, com pobreza em todo o lado, sem higiene e uma sociedade com extremos.”
Agora que a vida dos três está a começar no Quénia, estimam que por ali fiquem pelo menos até 2019. “Se voltarem a renovar o meu contrato fico até 2020 pelo menos. Quem sabe ficamos de vez aqui e vamos a Portugal de férias para visitar os amigos e a família.”