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Fugir ao trânsito e à gasolina

Fugir ao trânsito e à gasolina
d.r.

A pequena Askoll eS3 tem autonomia e desempenho suficientes para as típicas viagens casa-trabalho, custos de utilização muito baixos e uma grande aptidão para evitar engarrafamentos

Há cada vez mais propostas para uma mobilidade mais sustentável. A mais recente é esta scooter urbana da italiana Askoll, que chega a Portugal pelas mãos da ZEVtech. A eS3 é uma scooter elétrica com motor de 3 kW de potência e uma bateria com 2,8 kWh de capacidade – na verdade são duas baterias, o que vamos explicar ao pormenor mais à frente. Ou seja, não deixa mau cheiro, nem faz aquele barulho irritante das scooters de dois tempos que andam por aí a entregar pizzas.

Na estrada, a velocidade pode chegar aos 70 km/h e a autonomia máxima fica próxima dos 100 km, mais que suficiente para uma circulação urbana e para a maioria dos percursos casa-trabalho.

Em utilização real, conseguimos fazer entre 60 e 80 km por carga. O suficiente para utilização urbana. No exemplo mostrado da imagem, ao fim de 40,1 km de condução intensiva o computador de bordo indicava pouco mais de 40% de autonomia

O design minimalista com linhas simples, sem parafusos à vista, resulta num aspeto moderno, o que é reforçado pelos faróis full LED e pelo mostrador onde há um velocímetro analógico e um pequeno ecrã LCD com as informações típicas de computador de bordo (nível da bateria, quilómetros percorridos, autonomia…). A posição dos indicadores de mudança de direção, bem abaixo do farol frontal e já no corpo principal da scooter, e o alongado grupo ótico traseiro, que integra todas as luzes (incluindo os “piscas”), são pormenores que fazem a diferença. No global, podemos definir o design como um género de moderno-retro bem conseguido. Ouvimos muitas vezes “que gira”, mas também encontrámos quem não gostasse.

No que ao conforto diz respeito, as rodas grandes ajudam a minimizar as consequências de passar pelas “pequenas crateras” que encontrámos, sobretudo, nos percursos em Lisboa. Também ajudam a passar obstáculos, como passagem por uma banda sonora mais “agressiva”, e, é claro, aumenta a tração porque há mais borracha em contacto com o piso. Certamente uma das razões que nos levaram a ficar muito satisfeitos com os pneus, que têm um bom equilíbrio entre conforto e aderência.

Tipicamente, rodas maiores podem prejudicar a agilidade, mas não notámos esse efeito negativo. Na verdade, esta é uma scooter muito fácil de conduzir entre o trânsito. Como é estreita, podemos passar no mesmo sítio onde passaria uma bicicleta. O que foi notório nos testes em horas de trânsito intenso: várias vezes ultrapassámos “motões” e até maxi-scooters que não conseguiam avançar por falta de espaço entre os carros parados nos engarrafamentos.

O porta-luvas instalado na scooter tem um custo extra de cerca de 80 euros. Há outros opcionais, como mala para capacetes e caixa de transporte

Um último pormenor sobre o design: a roda traseira está montada sobre um único braço e, ao contrário de outras elétricas, o motor não está na roda, o que facilita a manutenção (substituir o pneu, por exemplo).

Autonomia satisfatória, potência nem por isso

Junto ao punho do lado direito há um botão para selecionar o modo de condução: Eco, Normal e Power. O primeiro limita significativamente a potência disponível para aumentar a autonomia, enquanto o Power permite tirar máximo partido do motor. Não sentimos que o modo Normal fosse muito diferente do Power, exceto na aparente limitação da velocidade máxima a cerca de 60 km/h. Como o modo Eco é demasiado limitativo, optámos sempre pelos modos Normal e Power. E foi usando este último que fizemos o primeiro teste de autonomia.

Primeiro, num percurso com pouco desnível acumulado (estrada marginal que liga Cascais a Lisboa) e, sempre à velocidade máxima possível (punho enrolado). Ao fim de 55 km tínhamos 10% de bateria, o que significa que a autonomia seria suficiente para chegar aos 60 km. Depois fizemos um percurso sobretudo dentro de Lisboa em modo Normal e fizemos 40 km com 50% de bateria. Ou seja, a autonomia real anda entre 60 a 80 km, um valor suficiente para a maioria dos percursos diários e que significa que esta moto consegue um consumo inferior a 50 cêntimos de energia por cada 100 km.

Menos impressionados ficámos com a potência do motor. É verdade que os 70 km/h de velocidade máxima são perfeitamente suficientes para uma condução urbana, mas só se consegue atingir este valor quando não há subidas e depois de algum embalo. Pouco para uma moto que, legalmente, pode circular em vias rápidas e autoestradas (motociclo). Experimentámos e não nos sentimos seguros quando, numa subida no IC19, a velocidade máxima baixou para um pouco menos de 50 km/h e sentimos os carros a passar por nós a elevada velocidade.

Mesmo em circulação urbana, a falta de potência pode ser problemática. Se transportamos um pendura ou se o condutor tiver um peso acima da média é fácil encontrar subidas um pouco mais inclinadas onde a velocidade máxima não ultrapassa os 30 km/h.

Duas baterias… e amovíveis

Uma das melhores características desta scooter é a possibilidade de remover as baterias que estão instaladas debaixo do banco. Não só porque, deste modo, podemos substituir as baterias rapidamente (é possível adquirir baterias extra), mas também porque permite o carregamento fora da moto.

A este respeito, é importante referir que o carregador interno também é amovível. O que significa que podemos deixar a scooter na rua ou numa garagem partilhada e levar as baterias para carregar em casa ou no escritório.

Há, contudo, alguns inconvenientes: cada bateria pesa 7,5 kg, o ruído do carregador é bastante audível em consequência das duas ventoinhas de alta rotação responsáveis pela refrigeração e, quando fora da scooter, o carregador só permite carregar uma bateria de cada vez (na scooter, as duas baterias são carregadas em simultâneo). Esta última característica não seria especialmente limitativa se a scooter tivesse o mesmo comportamento quando a usar uma ou duas baterias. Mas não é assim.

Se usarmos apenas uma bateria, a potência disponível baixa muito – talvez para metade – o que significa que algumas subidas passam a ser feitas a 15 km/h ou mesmo menos. E basta o nível de carga das baterias ser diferente para sentirmos essa limitação porque o sistema de gestão de energia só usa a bateria com maior nível de carga até que as duas baterias fiquem com um nível semelhante. Ou seja, na prática, é preferível carregar na scooter ou adquirir um segundo carregador para poder carregar as duas baterias em simultâneo.

O processo de retirar/encaixar as baterias não é difícil. Só temos de desligar uma ficha de cada bateria e do carregador. Mas podia ser mais simples já que é fácil imaginar um sistema onde a conexão com bateria seria feita por encaixe. O tempo de carregamento da bateria ultrapassa as seis horas. Rápido q.b. para carregar durante a noite, mas pode revelar-se um pouco lento para, por exemplo, carregar durante a hora do almoço.

Junto ao punho direito há um botão para escolher um de dois modos de regeneração. No modo mais baixo, a regeneração só acontece quando travamos. No modo mais intensivo, o motor transforma-se em gerador logo que desaceleramos. Como a potência de regeneração é relativamente reduzida, não sentimos grande intensidade de travagem, mas é o suficiente para abrandar um pouco a scooter nas descidas, o que é útil em traçados mais acidentados porque permite aumentar um pouco a autonomia e desgastar menos os travões. Mas mesmo sem esta ajuda, esta scooter trava bem. Os travões até são um pouco pesados, mas o resultado é convincente e transmite segurança.

Neste aspeto, a suspensão “mais para o dura” ajuda, mas o melhor mesmo é a travagem repartida quando usamos a manete da esquerda. Ao contrário do habitual, esta manete aplica os travões às duas rodas, com mais potência de travagem para a roda de trás de modo a evitar deslizes na roda da frente. Como é habitual, a manete da direita trava apenas a roda da frente.

Mobilidade sustentável

Depois de vários dias a usar esta scooter, não há como não ficar impressionado com a agilidade e a eficiência em circulação urbana. Confessamos que é difícil voltar a um carro. Apesar da potência reduzida, os problemas de trânsito e de estacionamento habituais nas grandes cidades fazem com que, na maioria das vezes, se chegue mais depressa nesta scooter do que usando um carro ou os meios de transporte públicos. E, é claro, o baixíssimo consumo energético e de manutenção mudam por completo a forma como pensamos na mobilidade.

É verdade que o investimento inicial é elevado, mas perfeitamente recuperável para quem faz entre 50 de 100 km por dia, sobretudo em circulação urbana. E como tem uma boa base para carga e vários acessórios disponíveis, a Askoll eS3 é também uma proposta muito tentadora para serviços de entregas. Neste aspeto, é importante relembrar que as baterias podem ser trocadas rapidamente. É difícil perceber que, por exemplo, as pizzarias com serviço de entregas ainda não tenham mudado em força para este tipo de solução.

Características Askoll eS3

Preço: €4199

Potência: 3 kW (elétrico)

Binário: 130 Nm

Velocidade máxima: 70 km/h

Autonomia indicada: 96 km (medido: 60 a 80 km)

Peso: 85 kg (capacidade de carga: 160 kg)

Representante: Zevtech

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: smagno@exameinformatica.impresa.pt

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