O jantar pode esperar...
... sobretudo aos fins de semanas, quando as manhãs tardias convidam a um apetitoso brunch. Neste início de outono podem ainda não cair as folhas, mas começam a chegar as novas cartas e os novos espaços
... sobretudo aos fins de semanas, quando as manhãs tardias convidam a um apetitoso brunch. Neste início de outono podem ainda não cair as folhas, mas começam a chegar as novas cartas e os novos espaços
Jornalista
Até há pouco tempo os brunches chegavam apenas pela televisão nas séries norte-americanas ou nos filmes estrangeiros. Viam-se ali os momentos em que grupos de amigos ou de familiares se juntavam para aproveitar a lentidão típica dos fins de semana. Em poucos anos a moda galgou fronteiras e chegou a Portugal, com os restaurantes a abrirem portas àquilo que se tornou mais do que uma oferta para um nicho de mercado.
A origem da palavra saxónica une o pequeno-almoço ao almoço e, olhando para uma mesa onde o brunch é servido, essa é mesmo a melhor descrição. A preguiça de sábado e domingo encurta as manhãs e junta as refeições sem que o estômago alargue para aguentar os caprichos de quem quis ficar mais tempo na cama. E só assim parece normal na mesma refeição empurrar o sushi com café ou os pastéis de nata com mimosas
Depois de importado o conceito, começou a moldar-se aos vários mercados e fazer-lhe mutações no ADN para que ficasse bem português. E, olhando para a oferta disponível, este esforço tem sido feito com sucesso. Na baixa portuense, o Astoria, do Hotel InterContinental do Palácio das Cardosas, demonstra as mutações numa carta com meia centena de pratos. Entre o 12h30 e as 16h há croissants e show cooking de ovos para manter a linha de pequeno-almoço. No passaporte internacional podemos escolher entre ceviche, carpaccio e os tártaros e de inspiração portuguesa surgem a sopa de legumes, as empadas de galinha e chouriço e os pastéis de nata. Uma tríade com muitos mais exemplos servida ao sábado num bufete de €27,50. E se a preguiça de domingo faz com que se torne impossível deixar o carro em casa, ali não há motivos para preocupação. O hotel oferece duas horas de estacionamento gratuito, o que naquela zona do Porto se torna um presente de valor incalculável.
Independentemente de qual for a nacionalidade do brunch, o café põe de lado as diferenças e não pode faltar. Seja um copo quase só com água e pintado de café seja um capuccino ou um machiato há para todos os gostos e de todas as nacionalidades. E mesmo em território português em chávena quente ou fria pode ser servida uma bica curta ou um cimbalino cheio. Este último, assim chamado na zona do Grande Porto, ganhou o nome devido aos expressos que saíam na máquina Cimbali do Café Progresso. Um lugar centenário de simplicidade familiar que ao cimbalino e aos cafés de saco junta agora, no renovado espaço, os cafés de especialidade. Os grãos de café são ali torrados e misturados e quando transformados em café podem acompanhar o brunch à la carte, feito à medida de quem o vai saborear. O que de preferência deve ser feito na mesa comunitária que tem a luz perfeita para as fotografias do Instagram. No café da Praça Carlos Alberto o brunch fala português, nasce do pequeno-almoço e acorda a partir daí até chegar à mesa com o nome de Menu Bom-dia. O segredo do espaço continua a ser a receita dos queques da senhora D. Odete, que se mantiveram mesmo com todas as alterações do espaço, não fosse com uma mínima mudança haver um levantamento popular.
Mais a sul, o café chama-se bica e, tal como em todo o país, é bebido diariamente, podendo acompanhar o também diário brunch da Frutaria. O mais recente espaço da baixa lisboeta, cuja inspiração é uma frutaria antiga. Depois de um brunch de €15 com café ou chá, sumo, taça bowl, ovos ou panquecas pode comprar-se a fruta fresca pesada numa balança de pratos. E a garantia é que tudo é muito fresco.
Por terras lusitanas não é preciso uma desculpa para se fazer uma pausa para o café. Já na Suécia o momento deve ser acompanhado por amigos e chama-se fika. E não é coincidência que o espaço escandinavo em Cascais tenha o mesmo nome. Além das sandes e das saladas de inspiração nórdica, ao sábado há brunch entre as 9h e as 16h por €8,5. O menu é feito à carta por quem o vai comer, sujeito a todas as alterações e, claro, os fumados são a estrela da festa. Antes de sair do espaço não há nada mais tradicional daquela zona fria do que os quentes cinamon rolls (€1,5). Uma sobremesa bem cristalina com passas e canela.
De docinho em docinho também se faz um bom final de brunch. E a Miss Pavlova, da rua do Almada, sabe bem que essa é uma verdade. Deixou de vender em exclusivo os doces que fizeram com que os portuenses a levassem de boca em boca. E agora tem todos os dias um brunch criado pelo cliente, consoante as ordens que a fome de cada um der. Estão disponíveis para misturar smoothie bowls (€5) e seis formas diferentes de servir ovos (€6,5). À saída é obrigatório uma pavlova (€2,80), seja ela a clássica, a floresta negra ou a bomba de Oreo ou Maltesers.
O verão este ano trocou as voltas e se, por um lado, a antecipar o tempo o Hotel da Estrela, em Lisboa, já terminou os piqueniques, por outro tem a varanda aberta aos sábados entre o 12h30 e as 15h30 para o brunch. Por €19 há um bufete com sabores da estação como a compota caseira de abóbora e o chá de limão no Palácio dos Condes de Paraty.
Oferta palaciana é também a do Olivier Avenida no brunch de domingo. Entre as 12h30 e as 16h há um sem-número de mesas postas de queijos, enchidos, sobremesas, pastelaria e muitas outras iguarias de fazer envergonhar Pantagruel. Por €25 há ainda dois pratos quentes à escolha para fazer valer a parte de almoço do brunch. E sempre um sushi men que faz as peças na hora.
Também pelo Campo Pequeno, o Don Alimado do Júpiter Hotel tem ao domingo um bufete onde o pequeno-almoço e o almoço se encontram. Entre as 12h30 e as 15h30 há a €23 salgados, doces e pratos quentes como massas e risotos. Um brunch para toda a família, mas que tem uma zona infantil para que as crianças possam brincar enquanto os adultos preguiçam. À semelhança do que acontece no Astória do Porto, também na cidade das sete colinas há duas horas de estacionamento oferecidas pelo hotel.
Deixando as gulodices e as mesas de perder de vista à parte, no Príncipe Real, em Lisboa, existe agora um brunch para os vegan, vegetarianos ou simplesmente para quem quer ser saudável. O Naked serve o que se chama comida limpa. Os alimentos saem quase da terra diretamente para o prato. São nus, quase crus. São o que são e têm muito sabor. É mais um dos sítios onde se acaba com a ditadura do fim de semana e não há horas nem dias para se ‘brunchar’, sim, porque como quase todos os nomes de origem anglo-saxónica também este se tornou um verbo. Por €15, pode degustar tostas, granolas, smoothies, etc. Este é o sítio ideal para se poder sair sem se dar uma facada na dieta. E como ser saudável também é saber ser moderado, há bolo da Marta é uma vitrina só com gelados da Paletaria.
Sim, a maioria das vezes os brunches são lentos e típicos dos domingos de descanso. Mas há quem não queira nada disto e faça sempre do fim de semana uma festa e agitação. Para esses o The Insólito, em Lisboa, deixa de ser um espaço exclusivo da noite. Tem na varanda do The Independent & Suits um DJ entre as 12h e as 16h. Três menus que indicam o conceito de brunch: o ressaca; o fit e o paleo. Há uma mesa selfservice com jarros de sumos, provavelmente para quem pedir o primeiro menu e com a bebida preferida dos domingos, o Bloody Mary. Se nada disto apetecer, há muitos cocktails a serem feitos na hora. Por €30 há ainda pipocas e nachos sem limites, tudo isto com vista para o Castelo.
Da parte da manhã vence a moda anglo-saxónica de se juntar o pequeno-almoço ao almoço e de se viver tempo de qualidade em família. À tarde pode fechar-se o dia com a ainda não importada, mas igualmente saborosa e criativa, tradição portuguesa do lanche ajantarado.
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