Sociedade

Influenciar através das redes sociais

A Payback Challenge quer evitar os ajuntamentos entre jovens e os efeitos adversos do confinamento nestas idades.
A Payback Challenge quer evitar os ajuntamentos entre jovens e os efeitos adversos do confinamento nestas idades.

Mostrar atividades simples do dia a dia, como ir ao ginásio ou almoçar, pode levar os outros a consumir. No Instagram começa-se a construir uma nova espécie de publicidade Texto Carolina Reis Infografia Sofia Miguel Rosa

Uma imagem vale mais do que mil palavras. Mas há imagens que valem milhares de likes, seguidores ou comentários. E assim atraem anunciantes e agências de comunicação. É o novo mundo dos influenciadores digitais (da expressão em inglês digital influencers). Nasceu um novo mercado onde pessoas que nunca apareceram nos media se tornam famosas apenas por mostrarem o seu estilo de vida.

São mais do que simples bloggers ou youtubers. “Qualquer um pode ter um blogue ou um canal no YouTube, a partir do momento em que fazem set up das suas contas. Ser influenciador digital é mais do que isso, é ter a capacidade de influenciar os consumidores. Tem de ter capacidade de persuasão.”, explica Francisco Silva, consultor de marketing digital. A receita é nova, mas o objetivo é antigo: ter a capacidade de influenciar hábitos de consumo, de levar quem vê a comprar o produto que se mostra.

É uma influência subtil. Não há anúncios no sentido tradicional, em que alguém fala diretamente do produto e o aconselha a comprar com a justificação de que é o melhor. Este é um fenómeno recente que cresceu com as redes sociais, em especial com o Instagram. “Muitos influenciadores digitais não são vendedores, mas são ótimos no fortalecimento e reconhecimento das marcas com as quais trabalham. Saber distinguir uma campanha de reconhecimento de marca, de uma campanha de venda é fundamental para se trabalhar corretamente com influenciadores”, defende Paulo Faustino, especialista em marketing digital e CEO da Get Digital.

infografia sofia miguel rosa

A receita é bastante simples. Os influenciadores digitais vão contando o dia a dia e envolvendo nesta narrativa as marcas com quem têm parcerias (é este o nome dado para os contratos com as marcas). Se vão ao ginásio, há uma foto a treinar com a devida referência e link para a conta do ginásio. Se têm um acordo com uma marca de protetores solares, é normal que surjam fotos na praia a espalhar o creme. E se for para promover uma marca de biquínis, basta tirar fotos com eles vestidos na praia, com o link da conta da marca. Quando se quer promover um restaurante só precisam de lá ir, comer e ir publicando imagens com os pratos favoritos, sempre em modo de diversão total. Às vezes nem é necessário fazer uma legenda.

Há quem ande com um fotógrafo para captar o dia a dia com mais profissionalismo. E há também quem faça desta vida quase uma profissão, em que é agenciado. É o caso de Beatriz Moniz Ramos (118 mil seguidores), uma jovem de 22 anos, a terminar a faculdade e a estudar representação, que sentiu necessidade de ter um agente, na mesma altura em que as agências de atores e modelos perceberam a tendência do mercado. “Mudámos de nome para Next Management, porque é algo muito mais global. Os nossos agenciados recebiam contactos de marcas através do Instagram e contactavam-nos porque isso, às vezes, entrava em choque com o que tínhamos para fazer a nível de publicidade”, explica Thais Ribeiro, responsável pelo departamento digital. A mudança na agência é recente, aconteceu há cerca de um ano, mas já produz efeitos. “Há marcas que nos pedem homens influenciadores digitais, mas nós não temos perfis para propor”, frisa a agente.

É um mercado quase exclusivamente feminino, com mais jovens mulheres a comprarem e outras a influenciarem. A maioria destas influenciadoras digitais é do sexo feminino, ainda a estudar, e ninguém consegue traçar uma linha para explicar os sucessos alcançados. “Um simples post leva a que as pessoas perguntem o que estou a vestir, o preço e como obter. Identificando a marca no post torna-se muito mais fácil a adesão para as marcas”, conta Beatriz Moniz Ramos.

Na sua conta de Instagram vai mostrando coisas simples como um jantar de sushi ou uma aula de boxe. Nas caixas de comentários chovem elogios e perguntas sobre os produtos usados e as atividades feitas. Quase se pode dizer que é uma especialista em roupa de praia, desporto e alimentação saudável. “Os posts com maior audiência são sem dúvida os biquínis. Logo a seguir as roupas de desporto e a alimentação saudável. E por fim, as roupas de dia a dia.” Começou por fazer propaganda a várias marcas, em especial de biquínis (os posts que ainda hoje têm maior audiência) e desporto. O número de seguidores não parou de crescer, tal como o interesse das marcas. Hoje, não dá um passo sem passar por Thais. “A minha página está construída de modo a que quando as marcas veem o meu perfil enviam um e-mail diretamente para a minha agência. Todas as parcerias, colaborações e valores são tratados com a minha agente. No entanto, ainda são muitas as marcas que preferem enviar Instadirect, pois pensam que é a maneira mais fácil de entrar em contacto comigo, quando isso acontece, respondo e encaminho a proposta para a agência.”

E há até quem esteja a passar do digital para o papel, como é o caso de Mafalda Melo Sampaio, mais conhecida por ‘A Maria Vaidosa’, que acaba de lançar uma revista (€4,90). Os 221 mil seguidores tornaram-na tão apetecível que a Media Camp apostou nela e criou uma publicação com conteúdos semelhantes aos que podemos ver no Instagram e no YouTube. Tem mais seguidores, likes e comentários do que as contas e páginas de jornais e revistas de referência. ‘A Maria Vaidosa’ tem até página de fãs. “É normal que o entretenimento tenha mais audiência do que a informação”, defende Francisco Silva.

Apesar de o sucesso estar diretamente relacionado com o número de seguidores, só isso não chega. Um influenciador digital precisa de ter um nível de interação muito grande com o seu público. “Ter 50 mil seguidores no Instagram não diz absolutamente nada sobre um profissional. É o nível de interação e tração desse público com os conteúdos desse profissional que determina boa parte da influência que ele tem. Um blogger pode ser muito pouco influente nos seus canais digitais, por exemplo, enquanto que um influenciador digital pode nem sequer ter um blogue e utilizar apenas os seus perfis nas redes sociais para influenciar as tomadas de decisão de outras pessoas”, frisa Paulo Faustino.

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