Sociedade

iPhone. Um X marca o tesouro?

O ecrã do iPhone X é tão grande que não há espaço para botão Home
O ecrã do iPhone X é tão grande que não há espaço para botão Home
fOTO Stephen Lam/ REUTERS

O mais caro iPhone de sempre não impressiona pela tecnologia mas está destinado ao sucesso

Com um preço-base de 1179 euros em Portugal, o novo iPhone X (lê-se 10) vai certamente encher os cofres daquela que já é considerada a empresa mais rica do mundo. Como ficou claro para as centenas de jornalistas que tiveram a oportunidade de ver pela primeira vez o impressionante Steve Jobs Theater, o auditório que faz parte da nova sede de 4 mil milhões de euros da Apple. Uma contextualização importante porque o novo iPhone de topo não só celebra o 10º aniversário do smartphone “que mudou tudo”, como também foi apresentado como um tributo a Steve Jobs. Foi com palavras de homenagem ao anterior líder que o atual CEO da Apple, Tim Cook, começou a apresentação. Primeiro, uma nova versão do Watch, que até pode fazer chamadas. O smartwatch que, segundo a Apple, já vende mais do que qualquer outro relógio. Depois, dois iPhone 8: a versão com ecrã de 4,7 polegadas e uma única câmara traseira e a versão Plus, com ecrã de 5,5” polegadas e duas câmaras traseiras. Até aqui, tudo ‘normal’. Evoluções naturais dos iPhone 7: mais rápidos, com melhores câmaras, com, carregamento sem fios (finalmente!)... Mas o que audiência esperava, o “one more thing”, estava guardado para o fim, como é típico das apresentações da Apple.

Os rumores, que estragaram o fator surpresa, confirmaram-se. O X é o primeiro iPhone sem botão Home e, consequentemente, sem leitor de impressões digitais — o Touch ID que serve para desbloquear o telefone, mas também para autenticar os utilizadores em, por exemplo, aplicações de banca online. “O maior salto em frente desde o iPhone original”. Foi assim que Tim Cook definiu o iPhone X. Não é o primeiro smartphone a ultrapassar a barreira dos 1000 euros, mas este é o iPhone mais caro de sempre. Será que esta etiqueta de preço faz sentido?

Segundo a Apple, claro que sim. O X foi apresentando como o “telefone do futuro”, o aparelho que, como o primeiro iPhone, vai servir de referência para o mercado. Uma forma politicamente correta de dizer “para os outros copiarem”. Quando, há pouco mais de dez anos, Steve Jobs prometia que a “Apple vai reinventar o telefone”, é provável que nem o próprio soubesse o real impacto desse telemóvel. A chegada, em 2008, da loja de aplicações, que liberta 70% do valor da venda para os criadores do software, representou uma das maiores disrupções de que há memória na tecnologia. Sem esse conceito, gigantes como a Uber e Airbnb provavelmente não tinham surgido.

Mais do que inovar, 
simplificar

No entanto, não é claro como é que o X vai reinventar o segmento da computação móvel — sim, os smartphones já são computadores sofisticados e não apenas telemóveis. Durante a apresentação, a demo mais impressionante foi um jogo de estratégia em que o campo de batalha foi gerado, em tempo real, sobre o palco onde decorreu o evento. Tim Cook já tinha deixado claro que a Apple se estava a preparar para entrar no mundo da Realidade Aumentada (RA), um negócio avaliado por muitos em milhares de milhões de dólares — certamente já ouviu falar do fenómeno Pokémon Go. Nos novos iPhone, incluindo os 8, há novidades importantes na forma como os sensores de movimento e posição ‘falam’ com as câmaras para colocarem, com grande precisão, os elementos digitais no mundo real. O que abre caminho para todo um novo ecossistema de aplicações. A IKEA, por exemplo, já anunciou uma app para o novo iOS 11, o sistema operativo do iPhone, que permite aos utilizadores posicionarem móveis virtuais da marca nos espaços reais dos clientes.

No que ao design diz respeito, a Apple parece ter dado ouvidos aos clientes e optou por voltar a usar vidro no chassis, como já tinha feito no iPhone 4/4s. A marca diz que a resistência está garantida graças à adição de metal laminado aos painéis de vidro. Não há dúvidas de que os novos iPhone vão diretamente para o topo no que ao aspeto diz respeito. Ainda assim, nem tudo é perfeito, e aquelas câmaras salientes estragam um pouco o conceito de “bloco único” dos aparelhos.

Voltando ao botão Home, ou melhor, à falta dele no X, será que esta decisão será bem recebida pelos utilizadores, que estão habituados a pressionar este botão centenas de vezes ao dia? De acordo com os comentários nas redes sociais, a maioria dos fãs parece gostar, mas muitos consideram que não é (tão) prático fazer um movimento no ecrã para aceder ao menu principal e olhar para a câmara para autenticar o utilizador, funcionalidade denominada Face ID. A Apple garante que vai ser tudo muito simples e alguns dos jornalistas que já experimentaram o iPhone X parecem estar de acordo.

A câmara frontal 3D também permite outras funcionalidades. Uma delas é a capacidade de alterar, em tempo real, o fundo das fotos feitas com esta câmara. O que abre caminho para, por exemplo, selfies feitas em casa que mostram o utilizador uma praia paradisíaca. Sim, já não podemos acreditar nas fotos... Talvez ainda mais popular sejam os emojis animados, batizados de Animoji. Ou seja, em vez de simples smileys, como sorrisos e corações, os utilizadores vão poder trocar mensagens com bonecos que reproduzem as expressões faciais dos interlocutores.

A Apple parece ter, uma vez mais, conseguido tornar tecnologias complexas mais usáveis. Outros já tinham reconhecimento facial, mas com problemas de desempenho e de segurança; a aplicação de Realidade Aumentada em smartphones já tinha sido desenvolvia pela Google e aplicada em alguns smartphones, mas estes aparelhos são demasiado grandes; pelo menos um concorrente já usava câmaras dos smartphones para criar avatares com base na cara dos utilizadores, mas a utilidade prática dos Animoji parece ser muito maior… A Apple tem novas armas para se distinguir da concorrência, sobretudo no X.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: smagno@exameinformatica.impresa.pt

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