Neste dia semelhante a tantos outros, Elizabeth é a menina de seis anos que o avô Santiago leva pela mão, atravessando o bairro Periodista da Cidade do México. À espera deles está Antonio Rodriguez, o homem que Diego Rivera ouvia, o consensual académico e crítico de arte. Na calle Mónico Neck, os dois são recebidos sem cerimónia, numa casa em que a arte mexicana e os livros se amontoam. Entre eles e a sala de jantar, uma árvore de magnólia. Elizabeth ouve-os conversar sobre política, o tempo todo. Falam da desvalorização da moeda nacional, de revoluções e políticos. Aqui e ali acendem-se os ânimos, a pretexto da atualidade, na insatisfação que faz Santiago apurar truques para sintonizar a rádio a geografias distantes. Antonio tem 66 anos, Santiago é dez anos mais novo. Entraram juntos no México há 35 anos, deixando para trás as suas identidades portuguesas. Jaz morto Pavel/Francisco de Paula Oliveira, um dos mais importantes líderes comunistas portugueses, ao lado de Álvaro Cunhal e Bento Gonçalves. E, tão desaparecido quanto ele, o enfermeiro Augusto Rodrigues Figueira.
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