Olha-se para a fotografia e não se percebe, como na realidade não se percebeu e jamais se perceberá, se a guitarra era uma extensão de Carlos Paredes (1925-2004) ou se ele era um prolongamento da guitarra. Tinha aquela forma muito especial de a abraçar, de respirar perto dela, de lhe exigir até as cordas se romperem. Para onde quer que fosse, conjuntos de cordas avulso iam sempre com ele — num saco de plástico do qual não se separava durante a viagem de avião, para contornar um eventual extravio de bagagem, no estojo da guitarra caso se deslocasse dentro do país. Se uma corda se partisse a meio de um concerto, trocava-a na hora, quase com a picardia de quem foi ‘apanhado’ num imprevisto e precisasse da compreensão do auditório para o contornar. Com naturalidade, metia conversa com o público, e tal interrupção não feria o alinhamento. Fazia parte dele, tanto quanto o pode fazer a relação íntima e orgânica entre um músico e o seu instrumento.
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