Recorrendo a uma das memórias mais vivas da minha infância, passada fora de Portugal, lembro-me bem de sonhar com um batalhão de primas que ainda não conhecia, mas cujos nomes surgiam numa lista que a minha mãe pacientemente organizava, repartindo os meus cinco tios pelos seus diversos núcleos familiares, e onde apontava os nomes de cada elemento da prole e respetivas idades. Sobre eles, sobre essa turba nebulosa que também vivia as suas infâncias num território longínquo, ao qual na época referíamos como a Metrópole, mais nada sabia do que isto: nomes e idades. Contudo, um misterioso elo de uma cumplicidade bem diferente das relações de amizade com as meninas da escola, essas sim partilhadas e reais, parecia sedimentar-se de cada vez que a lista era revisitada e refeita na anotação de um novo nascimento, construindo-se assim uma primeira genealogia afetiva, ancorada nos laços familiares.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ASoromenho@expresso.impresa.pt