E num dia como os outros, Armando acordou sem saber onde estava, quem era e o que tinha de fazer. Na noite anterior, ainda se deitou com a fama de “computador” devido aos resultados obtidos com uma equipa de 25 comerciais, mas naquela manhã levantou-se guiado pelo espanto para ir à cozinha e descobrir que não reconhecia a mulher, e que até o nome com que o tinham registado 68 anos antes tinha desaparecido da cabeça. Passados dois anos, escolher um nome fictício para uma reportagem poderia ser só mais uma ocorrência plausível, mas a bonomia de “Zé dos Anzóis” ou “João da Carica” ficou descartada à partida. De súbito, Benjamim, que também participou na entrevista e que, pelos mesmos motivos, acabou com nome fictício, desbloqueia o impasse. “Somos os camaradas do Alzheimer!” Naquela sala eram apenas dois, mas no resto do país há pelo menos 200 mil doentes de demência que poderiam contar histórias parecidas.
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