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“No Brasil, ninguém foi preso por participar na ditadura militar”: entrevista com Walter Salles, realizador do premiado “Ainda Estou Aqui”

“No Brasil, ninguém foi preso por participar na ditadura militar”: entrevista com Walter Salles, realizador do premiado “Ainda Estou Aqui”
Gareth Cattermole/Getty Images for IMDb

É o cineasta brasileiro mais internacional da sua geração e percorreu connosco quase 40 anos de cinema a partir do seu mais recente trabalho. Enorme êxito do lado de lá do Atlântico, “Ainda Estou Aqui” está a provocar um profundo exame de consciência no seu país. Entre nós, estreia-se dia 16, já depois de Fernanda Torres, sua protagonista, receber o Globo de Ouro para Melhor Atriz. “Considero-a coautora do filme”, diz Salles. “Teve a inteligência emocional para retratar aquela mulher contida, mas com uma imensa chama, porque a Eunice é isso: um vulcão que está aceso mas não derrama”

O novo filme do autor de “Terra Estrangeira”, “Central do Brasil” e “Diá­rios de Che Guevara” toca numa ferida aberta na história do Brasil, uma vez que, tal como o cineasta carioca dirá nesta entrevista, “ninguém foi preso por participar na ditadura militar” do seu país. O ponto de partida é o livro homónimo de 2015 escrito por Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Rubens Paiva (1929-1971), engenheiro e ex-deputado detido no início da década de 70 na sua casa do Leblon, Rio de Janeiro, no período político mais negro daqueles anos de chumbo. O seu corpo jamais foi encontrado. Eunice Paiva (1929-2018), matriarca da família, formada em Direito, deu então início a uma batalha jurídica que ficou para a história, repondo a verdade sobre o assassínio do marido. A advogada tornou-se um símbolo nacional da luta contra a ditadura. Tal como o livro, é em Eunice que a obra de Salles se centra — um papel extraordinário de Fernanda Torres, complementado por Fernanda Montenegro nas cenas finais, nos anos de velhice da personagem. Filme e atriz estão agora na rota dos prémios que se avizinham. Décadas depois de a mãe, Fernanda Montenegro, ter perdido o Óscar em 1999 com “Central do Brasil”, resta saber se a filha, Fernanda Torres, conseguirá lá chegar com outro filme de Walter Salles, emotivo e justo no tom, avesso a sentimentalismos. Para já, o Brasil recebeu-o de braços abertos. A 2 de dezembro último falei com Salles em demorada conversa gravada nos jardins do Mamounia, no âmbito da última edição do Festival de Marraquexe, em Marrocos, que lhe prestou homenagem.

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