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“A consanguinidade reduz-se com a entrada de plebeus nas famílias reais, como Letizia Ortiz em Espanha ou Kate Middleton em Inglaterra”

O rei D. João VI, “O Clemente”, filho de D. Maria I e de D. Pedro III, apresentava níveis de consanguinidade muito altos (quadro de Domenico Pellegrini, Museu Nacional de Arte Antiga)</p>
O rei D. João VI, “O Clemente”, filho de D. Maria I e de D. Pedro III, apresentava níveis de consanguinidade muito altos (quadro de Domenico Pellegrini, Museu Nacional de Arte Antiga)

D.R.

Há mais de uma década que três cientistas da Universidade de Santiago de Compostela se dedicam a investigar o impacto das relações consanguíneas a partir do maior “laboratório” do género: as grandes dinastias europeias. No livro “O Rosto da Consanguinidade”, os investigadores propõem agora uma retrospetiva histórica da endogamia, prática que está longe de pertencer ao passado e cujas consequências nem sempre são ditadas apenas pela genética

Quando a maior base de dados biométricos da Europa — o Biobank britânico — decidiu, em 2019, realizar um estudo genético sobre mais de 30 anos de dados recolhidos, não estava provavelmente à espera de detetar um dos elementos mais perturbadores da biografia dos mais de 456 mil voluntários. Segundo uma investigação dirigida pelo geneticista Peter Visscher para determinar a influência dos fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento de certas doenças, pelo menos um em cada três mil voluntários apresentava elevadíssimos coeficientes de consanguinidade, derivados de relações incestuosas, a grande maioria violações de pais a filhas. Um valor que, no entanto, estaria ainda aquém da realidade, quando os dados da polícia britânica sobre crimes de incesto apontavam para uma ocorrência em cada cinco mil habitantes. “Trata-se de um caso extremo, que levou mesmo a que a comissão de ética vetasse a publicação de um estudo anterior para não estigmatizar grupos de indivíduos, mas é um dado que prova que o tema da consanguinidade está longe de pertencer ao passado; ainda hoje existem povoa­ções no mundo onde grande parte dos habitantes se casa entre primos ou entre parentes”, reconhece Francisco Ceballos, o geneticista galego e coautor do livro “O Rosto da Consanguinidade”.

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