Quando a maior base de dados biométricos da Europa — o Biobank britânico — decidiu, em 2019, realizar um estudo genético sobre mais de 30 anos de dados recolhidos, não estava provavelmente à espera de detetar um dos elementos mais perturbadores da biografia dos mais de 456 mil voluntários. Segundo uma investigação dirigida pelo geneticista Peter Visscher para determinar a influência dos fatores genéticos e ambientais no desenvolvimento de certas doenças, pelo menos um em cada três mil voluntários apresentava elevadíssimos coeficientes de consanguinidade, derivados de relações incestuosas, a grande maioria violações de pais a filhas. Um valor que, no entanto, estaria ainda aquém da realidade, quando os dados da polícia britânica sobre crimes de incesto apontavam para uma ocorrência em cada cinco mil habitantes. “Trata-se de um caso extremo, que levou mesmo a que a comissão de ética vetasse a publicação de um estudo anterior para não estigmatizar grupos de indivíduos, mas é um dado que prova que o tema da consanguinidade está longe de pertencer ao passado; ainda hoje existem povoações no mundo onde grande parte dos habitantes se casa entre primos ou entre parentes”, reconhece Francisco Ceballos, o geneticista galego e coautor do livro “O Rosto da Consanguinidade”.
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