Vive numa rua paralela à da casa londrina de Sigmund Freud. Se fosse uma personagem de ficção, Helder Macedo teria pouca verosimilhança. Como acreditar na possibilidade de lhe ter acontecido assim aquele avô, aquela infância, aquela adolescência, aquele amor? Merece muito ser lido e relido. E um bom portão para os mundos macedianos é “Pretextos”, o livro de crónicas publicado este ano. Com a infância e parte da adolescência gozadas em África e seis décadas vividas no Reino Unido, pouco tempo tem passado em Portugal. Em Lisboa costuma ficar hospedado num hotel que se chamava Império. Também por cá, mas quando tinha pouco mais de 20 anos, participou num levantamento armado falhado. Fugiu do país. A seguir encontrou o amor na mesma África do Sul onde nascera, por acaso ou por sinal. Depois do 25 de Abril passou de raspão pela Direção-Geral de Espetáculos, no Verão Quente de 1975. No final da mesma década orgulha-se de ter feito parte do Governo liderado por Maria de Lourdes Pintasilgo. Muito antes fora iluminado em Lourenço Marques pelas explicações de matemática de um amigo íntimo do poeta Mário de Sá-Carneiro. Um dia, o explicador descobriu que aquele miúdo andava a escrever versos. Organizou uma sessão de poesia para a família. Apresentou o rapaz. E mandou-o começar: “Lê.”
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