Quando pensamos nas misérias e glórias da expansão europeia entre o século XV e o século XX, a China não está no centro da nossa memória coletiva. A China era demasiado grande e complexa para ser colonizada; aliás, a grande tentativa de colonização da China partiu do Japão Imperial. No entanto, através dos grandes rios chineses, a superioridade naval e comercial do Ocidente conseguiu penetrar em alguns pontos, criando episódios (conquista de Macau e Hong-Kong; a imposição de comércio livre e de evangelização nalgumas áreas; as Guerras do Ópio; a Revolta dos Boxers), que, apesar de serem secundários para nós, são absolutamente centrais na memória chinesa. As Guerras do Ópio são uma nota de rodapé nos nossos livros de História, mas na identidade chinesa representam o início da grande decadência. E, no quadro atual, parece-me ainda mais interessante falar da Revolta dos Boxers (1899-1901) contra a entrada do cristianismo na China; foi o final de um processo de nacionalismo chinês lançado contra o cristianismo, que cresceu no século XIX até ao ponto de ter sido a argamassa de uma revolta lendária, material épico à espera de realizador — a Revolta Taiping (1850) foi lançada por cristãos chineses contra o statu quo imperial, e chegaram a controlar um terço do território.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt