Um diálogo entre o aqui e o aí. Entre Portugal e o Brasil. Eles e nós. Uma conversa sobre a falta de diálogo entre dois povos que, diz-se, falam a mesma língua. Ou que se expressam em línguas parecidas, mas distintas. Uma conversa em tom de provocação. Que mete o dedo no vespeiro para ver onde vai doer.
O jornalista e escritor Sérgio Rodrigues — que recebeu o Prémio Portugal Telecom com “O Drible”, considerado um dos melhores livros sobre futebol — debate há mais de duas décadas sobre a língua portuguesa. Colunista da “Folha de São Paulo”, iniciou polémicas memoráveis, como quando assinou o artigo “Lusofonia, adeus”, advogando a separação da língua portuguesa falada pelos brasileiros. Desafio a que o deputado e historiador Rui Tavares fez questão de responder. Escreveu também o livro “Viva a Língua Brasileira”, em que se debruça sobre as minúcias que separam os falantes de Portugal e do Brasil. Reconhece que o assunto é polémico e mexe com o temperamento dos interlocutores, mas não se deixa inibir perante as reações.
Verborreico, Sérgio Rodrigues fala muito, dificultando qualquer interrupção do entrevistador. O tema agrada-lhe, e ele solta a língua, que não renega ser de Camões, sem a preocupação de recorrer a filtros diplomáticos. Mágoa mesmo sente com o que diz ser o desprezo a que os leitores portugueses parecem votar a literatura brasileira contemporânea. Porque, atira, se do lado de lá do oceano se lê tanto José Luís Peixoto e Valter Hugo Mãe, não percebe porque os autores brasileiros atuais continuam a ser grandes desconhecidos da maioria dos portugueses. Uma entrevista em que as perguntas são feitas e transcritas em português de Portugal e as respostas respeitam a versão brasileira, expressa por Sérgio Rodrigues, numa demonstração de que em português nos entendemos.
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