Ainda que não estivéssemos sob influência dos Óscares, como estamos, seria impossível discordar da ideia de que os EUA são uma potência cultural. Como diz, nesta entrevista, Louis Menand (Nova Iorque, 1952), norte-americano de gema apesar do nome francês, é preciso levar em conta o facto de “a indústria cultural ser uma das grandes exportações da economia dos EUA”. Mas, o que hoje é economia também já foi política, ou começou por ser sobretudo uma intenção política. O autor, galardoado com o Prémio Pulitzer de História, com “The Metaphysical Club”, decidiu investigar as raízes do processo de expansão que levou a cultura norte-americana a quase todos os cantos do planeta. Em “O Mundo Livre — Arte e Pensamento na Guerra Fria” (Elsinore, 2023) — finalista do National Book Award —, o historiador, professor em Harvard e colaborador regular da “The New Yorker”, galardoado com a National Humanities Medal pelo Presidente Barack Obama, desenvolve uma narrativa romanceada e envolvente. Ao longo de mais 1100 páginas, fala das figuras-chave desta história, da forma como estes se foram encontrando, muitas vezes por “mero acaso”, das influências que estabeleceram, dos conflitos que desencadearam, num mundo onde quase tudo estava por construir e no qual a prioridade passava por usar a cultura “enquanto instrumento de política externa, ou seja, propaganda capitalista”. Pelo caminho desconstrói alguns dos mitos, algumas ideias que assimilamos em livros anteriores, mostrando que “a nossa experiência presente é exatamente aquilo que atribui ao passado o seu significado. A história não é um conjunto de factos, mas o significado de factos.” Cortar e colar factos não é a sua intenção, conforme defende nesta entrevista realizada em Lisboa.
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