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Obituário

Manuel Cargaleiro

Por João Miguel Salvador

1927-2024 Pintor e ceramista, viveu entre Portugal e França e foi um dos artistas portugueses mais internacionais — sem que nunca deixasse que a distância o desenraizasse, algo patente na sua obra ao longo da carreira. No início teve as dificuldades próprias dos grandes e da necessidade fez engenho quando, ao decidir abandonar a Faculdade de Ciências pela de Belas-Artes, perdeu o apoio familiar necessário à subsistência enquanto jovem adulto. Não desistiu e com ousadia — ou não viesse ele a conjugar uma arte maior como a pintura com uma arte menor como a cerâmica — construiu o seu caminho. Também com trabalhos de pintura, desenho e escultura, conseguiu o que poucos poderiam sequer sonhar para a cerâmica portuguesa: dar-lhe cor, tirá-la da prateleira e arranjar-lhe um lugar lá fora; colocá-la numa montra internacional. Com um sentido de humor destacado por todos aqueles que o conheceram, era também em meio aquático que se realizava e divertia. A natação era para si algo de uma importância maior. Praticou o desporto em todos os lugares, durante toda a vida. Mas esse desporto, aliado aos mergulhos nas obras de outros, as quais retinha como memórias cravadas no cérebro, não lhe preservava apenas o corpo. Cargaleiro atribuía ao ato de nadar e ao tempo que dedicava aos museus e à História da Arte parte das capacidades cognitivas que preservava já em idade avançada. Dia 30 de junho, aos 97 anos.

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