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Obituário

Nuno Júdice

1949-2024. Poeta português, ficcionista e ensaísta, é dos autores portugueses mais reconhecidos, premiados e traduzidos, criando leitores da sua obra em todo o mundo

D.R.

Quando num jantar alguém descreve um amigo que não está presente como “um poeta”, essa descrição tem um significado que nada tem que ver com poe­sia. Quer dizer que o amigo é despassarado, delirante, sem sentido prático e até mesmo inútil. Mas não deixa de ser empolgante ser rotulado assim. Dizer que alguém é “um poeta” não se compara a dizer que alguém é “um engenheiro”. Já dizer que é “um doutor” pode ser tão ambíguo como dizer que é “um poe­ta”, mas, à partida, doutores e engenheiros têm uma formação universitária específica que os habilita a desempenhar as suas funções. Os poetas só têm “as suas poesias” e, com um bocado de sorte, “as suas poesias” foram ou serão lidas. A sua solidão não é atenuada com a publicação dos seus poemas, nem sequer com o reconhecimento que poderão vir a ter. Escrever é uma atividade solitária que poderá ser recompensada pelos leitores. Escrever poesia não tem recompensa. É abrir a porta para ninguém entrar. A poesia é intimidade, mesmo que tenha como tema a dor da humanidade ou a alegria dos crentes.

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