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Ideias

Ir para fora sem sair da bolha

Fazer férias e levar o seu algoritmo é ter a certeza que continuará a ver o real que ele quer que veja. É bom que saiba isso

Sempre gostei de pequenos-almoços de hotéis. Ainda mais se forem bons hotéis. É o momento ideal (senão único) para se perceber quem ali está naquele espaço e quão diferente é, ou não, de nós. Os hotéis têm zonas nos buffets para chineses, indianos, europeus continentais, ingleses, americanos — dependendo de onde se localizam e de quem são os seus clientes. A primeira refeição do dia não chama a aventuras gastronómicas e cada um vai para o que lhe é familiar — parece-me. Podia discorrer aqui sobre diferentes atitudes culturais ou como os próprios hotéis estão a tentar ver-se livres dos buffets — dado o absurdo desperdício de comida que representam. Mas não. Há uma década o pequeno-almoço de um grande hotel era um local onde as pessoas se estranhavam. Que estarão a comer? Como conseguem? Era o primeiro desdém, o franzir de sobrolho matinal ou qualquer coisa equivalente em sentido oposto. Acabou. Olho à minha volta, em um, dois, três, quatro hotéis durante o pequeno-almoço. Mesas cheias de gente e todas, mas todas com a cabeça afundada no telemóvel ansiosamente a ver o que se terá passado enquanto estiveram a dormir. Há um casal ou outro que come, calado, com ar de casal calado. Tudo isto para chegar aqui. Sim. É difícil perceber como o mundo digital nos está a sugar cada vez mais. Sou tão “doente” como os demais. Obriguei-me a ver pessoas quando este era o meu grande passatempo.

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