
As eleições da Assembleia Constituinte, as primeiras em democracia, foram há 50 anos. Tiveram uma extraordinária afluência: votaram mais de 90% dos eleitores
As eleições da Assembleia Constituinte, as primeiras em democracia, foram há 50 anos. Tiveram uma extraordinária afluência: votaram mais de 90% dos eleitores
Jornalista e historiadora
Na tarde de 11 de abril de 1975, as juntas de freguesia de Lisboa colaram nas suas fachadas e portas os cadernos de recenseamento: nome do eleitor e respetivo local de voto. Junto a uma delas, um homem de meia-idade, chapéu de aba na cabeça, olha longamente as folhas. Um repórter da RTP, que cobria a publicação dos editais, interpela-o: “Veio consultar o local onde irá votar, não é verdade?”, pergunta, apontando-lhe o microfone. “Vinha consultar, mas não há cá ninguém. Ia para me esclarecerem aqui na junta, mas como não está lá ninguém não sei.” O jornalista não esconde alguma surpresa: “Sim, mas através dos editais que estão expostos junto à porta poderá saber”, disse, apercebendo-se logo de seguida que aquele cidadão não sabia ler, como mais de 25% da população nacional. Pergunta-lhe então o nome completo e ajuda-o a saber qual o lugar onde deverá votar, daí a uns dias, nas primeiras eleições livres, diretas e universais do século XX português. “Sim senhor, muito obrigado.”
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