
Ex-embaixador, que passou por vários países asiáticos, recorda a sua experiência na capital chinesa e olha para a evolução do país na última década. Na economia, na tecnologia, na inteligência artificial e também no controlo social
Ex-embaixador, que passou por vários países asiáticos, recorda a sua experiência na capital chinesa e olha para a evolução do país na última década. Na economia, na tecnologia, na inteligência artificial e também no controlo social
Tinha-me preparado, como um ator nos ensaios finais antes da estreia, para o momento em que cederia, com as duas mãos, ao recém-eleito chefe de Estado chinês, as cartas credenciais que trouxera comigo, depois de dizer as curtas linhas de diálogo dum argumentista sem grande imaginação: “Excelência, tenho a honra de apresentar a Vossa Excelência as Cartas Credenciais pelas quais o Presidente da República Portuguesa me acreditou como embaixador extraordinário e plenipotenciário da República Portuguesa junto da República Popular da China, bem como as Cartas de Chamada do meu antecessor.” É o momento crucial: o embaixador naquele instante corporiza o seu chefe de Estado e a inclinação protocolar na entrega não deve ser nem demasiado vertical, quase desafiante, faltando à cortesia mínima, nem tão vergada que recorde preitos de vassalagem (e questões antigas e polémicas da submissão ao kowtow na corte imperial chinesa). Na parede de retratos de antigos embaixadores, na chancelaria, com aqueles momentos imortalizados pelo fotógrafo oficial chinês, há algumas entregas que me pareciam vénias. O essencial é saber parar a inclinação num ângulo satisfatório para as duas partes. Já no Palácio do Povo, no final da cerimónia, o Presidente Xi convida-me para que me ponha à sua direita e é afinal de frente, lado a lado, que o fotógrafo me imortaliza. Décadas de protocolo varridas naquele instante. O posto prometia, a festa começava.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt