Donald Trump voltou a escalar a guerra comercial global com o anúncio de novas tarifas sobre importações provenientes de 92 países. A medida, formalizada esta quinta-feira por ordem executiva, marca o regresso em força da política tarifária como instrumento económico e geopolítico da presidência norte-americana.
O pacote, que substitui o anunciado em abril, prevê taxas entre 10% e 50%, aplicadas de forma assimétrica e com motivações tanto económicas como políticas. A aplicação entra em vigor a 7 de agosto, com exceções em negociação com alguns parceiros.
O impacto foi imediato nos mercados financeiros mundiais. O índice EuroStoxx 600 caiu 0,99% esta manhã, refletindo quedas generalizadas nas principais bolsas europeias. Em Lisboa, o PSI 20 recuou 0,92%. Nos EUA, Wall Street também sofreu perdas, com o Dow Jones a cair 0,72% e o Nasdaq a registar uma ligeira descida. O euro valorizou-se face ao dólar, enquanto os preços do petróleo e do ouro registaram ligeiras quedas, numa semana marcada por elevada volatilidade e incerteza.
O Canadá foi um dos países mais afetados pelo novo pacote tarifário de Trump, que elevou as taxas de 25% para 35% sobre todos os produtos não cobertos pelo acordo comercial USMCA. A Casa Branca justificou esta medida, em parte, pela alegada incapacidade do Canadá em controlar o contrabando de fentanil, uma droga altamente viciante que tem provocado uma grave crise de saúde pública nos EUA. O primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, reagiu com desapontamento e reafirmou disse que o governo canadiano vai agir no sentido de proteger os postos de trabalho canadianos e investir na competitividade industrial.
Pacote revisto de tarifas dos EUA alarga-se a dezenas de parceiros comerciais
Além do Canadá, as tarifas, que deverão entrar em vigor dentro de sete dias, incluem uma taxa de 25% sobre os produtos indianos importados pelos EUA, 20% sobre os produtos de Taiwan e 30% sobre os da África do Sul. Dois dos países mais pobres da Ásia, a Birmânia e o Laos, enfrentarão tarifas de 40% sobre as suas exportações para os Estados Unidos, enquanto a Síria suporta a taxa mais elevada, de 41%.
União Europeia sujeita a tarifas de 15%; França exige resposta firme
A União Europeia será sujeita a tarifas de 15% sobre sectores chave como o vinícola, o agroalimentar e os bens de luxo. A França lidera a contestação, com o Presidente Emmanuel Macron a exigir uma resposta firme e coordenada de Bruxelas.
Apesar da tensão, um acordo provisório assinado em julho permitiu excluir produtos farmacêuticos e automóveis do pacote de tarifas mais elevadas, adiando a aplicação destas últimas para 7 de agosto.
Embora afectada, a UE é um dos blocos que conseguiu concluir acordos formais de comércio nos últimos meses, incluindo um entendimento parcial com os EUA.
Brasil sofre retaliação política com tarifas de 50%
O Brasil será alvo de tarifas de 50% sobre a maioria das suas exportações, numa medida motivada por razões políticas, segundo a Casa Branca. Washington critica os processos judiciais contra o ex-Presidente Jair Bolsonaro, considerando-os uma “caça às bruxas”.
O decreto inclui exceções para certos produtos, como aviões, aço e sumo de laranja, mas denuncia diretamente o juiz Alexandre de Moraes, acusando-o de censura e perseguição a jornalistas e plataformas digitais, incluindo empresas norte-americanas.
Cobre transformado sofre forte aumento tarifário
Entre as medidas mais sensíveis destaca-se a tarifa de 50% sobre produtos transformados em cobre, como cabos, tubagens e componentes eléctricos. No entanto, o cobre em bruto está excluído destas tarifas até 2027, acalmando as preocupações dos maiores exportadores mundiais, nomeadamente Chile e Peru. O mercado reagiu com uma queda de 17% no preço do cobre na bolsa de Nova Iorque, refletindo a instabilidade gerada pelas medidas.
Coreia do Sul evita sanções mais duras com acordo bilionário
A Coreia do Sul conseguiu reduzir as tarifas para 15% ao fechar um acordo que prevê um investimento de 350 mil milhões de dólares no sector energético dos EUA. O Presidente sul-coreano, Lee Jae-myung, deverá visitar Washington ainda este mês para formalizar os termos do pacto.
Índia penalizada com tarifa de 25% e restrições relacionadas com petróleo russo
A Índia enfrentará tarifas de 25%, ligeiramente inferiores aos 26% inicialmente previstos, acompanhadas de sanções relacionadas com a importação de petróleo russo. As negociações entre Nova Deli e Washington permanecem bloqueadas, em grande parte devido à resistência indiana em liberalizar os seus sectores agrícola e tecnológico.
Fim da isenção fiscal para encomendas até 800 dólares entra em vigor a 29 de agosto
A partir de 29 de agosto, deixará de existir isenção fiscal para encomendas com valor inferior a 800 dólares. Segundo a Casa Branca, a medida visa combater a entrada de produtos contrafeitos e artigos perigosos, frequentemente vendidos através de plataformas digitais. A autoridade alfandegária dos EUA compromete-se a reforçar os controlos logísticos e a fiscalização, numa tentativa de fechar brechas exploradas para contornar as tarifas.
Suíça surpresa com tarifas de 39%
Para a Suíça, os Estados Unidos são um mercado fundamental para exportações como relógios, joias e chocolates. A tarifa de 39% imposta por Trump, que entra em vigor no dia 7 de agosto, surpreendeu o país, mas o Governo suíço "não está desencorajado e continua a buscar um acordo que será interessante para os dois lados", afirmou Ignazio Cassis, ministro das Relações Exteriores, citado pela Reuters. Por outro lado, o setor farmacêutico não foi incluído nesta medida da Casa Branca.