A forma da narrativa. Desenhar e fazer a curadoria de uma exposição é um acto de criação e um acto de comunicação

A reflexão semanal de Guta Moura Guedes sobre o mundo do design
A reflexão semanal de Guta Moura Guedes sobre o mundo do design
Guta Moura Guedes
Ando com um pequeno livrinho na mala, vá para onde vá, desde este último Fevereiro. E vou relendo, ao poucos, esta obra, antiga para mim, que a tinha lido há cerca de uns 20 anos atrás, escrita em 1960 pelo filósofo francês Merleau-Ponty. Chama-se “O Olho e o Espírito” e releio-a porque me concentro ultimamente no que é desenhar uma exposição e no que é fazer a sua curadoria. Neste ensaio, Merleau-Ponty foca-se na dialética entre ver e pensar, quer na produção da obra artística, quer na sua percepção e entendimento pela parte do observador. O que distingue as suas investigações fenomenológicas de outros filósofos, como Sartre e Heidegger, por exemplo, é a sua insistência no corpo enquanto meio de percepção e consciência, “não esse corpo possível que é lícito afirmar ser uma máquina de informação, mas esse corpo actual que chamo meu, a sentinela que se posta silenciosamente sob as minhas palavras e os meus actos”.
Desenhar e fazer a curadoria de uma exposição é, simultaneamente, um acto de criação e um acto de comunicação. Sem esta última dimensão, a da comunicação, não faz sentido produzir-se uma exposição. As exposições, sendo actos criativos e autorais, não têm como génese prioritária constituir-se obra artística — tem como função chegar às pessoas, ao público, comunicar, servir o propósito da partilha. Seja qual for o veículo de aproximação escolhido, uma exposição nasce para servir os outros, coisa que a arte não faz. E serve-se do design para nos abordar, física e mentalmente, propondo-nos ângulos e perspectivas, abrindo-nos portas.
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