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Oito instantes na vida de Pedro Amauri de Oliveira, o primeiro invisual doutorado em Direito na Universidade de Coimbra

Oito instantes na vida de Pedro Amauri de Oliveira, o primeiro invisual doutorado em Direito na Universidade de Coimbra
Getty Images

Estava no 1º ano da licenciatura em Direito, no Brasil, quando uma síndrome rara lhe tirou a visão. Para se adaptar à nova realidade, mudou de país, mas nunca de ambição. Com um interesse crescente pela área da investigação, foi na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra que, num caminho feito de marcos e algumas dificuldades, prosseguiu os estudos. Este mês tornou-se a primeira pessoa invisual a concluir o doutoramento pela instituição.

Mariana Ramos Loureiro e Ricardo Marques

1990

O curitibano

Natural de Curitiba, a capital do Estado do Paraná, nasce e cresce no Brasil. É desse lado do oceano, no Centro Universitário Curitiba, que começa, mais tarde, a estudar Direito, sem que Portugal esteja nos seus planos.


2010

Diagnóstico

É diagnosticado com a rara síndrome de Stevens-Johnson. Em consequência, “veio a deficiência visual” que o faz desistir dos estudos. “Era uma situação nova a que tinha de me adaptar e a Universidade não oferecia apoio a estudantes com deficiência visual”, conta ao Expresso.


2014

Coimbra

Vem para Portugal estudar na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Na instituição, é-lhe possível “ouvir a bibliografia”, recorrendo a um “software de leitura de ecrã”, porque existe um “serviço de conversão de livros em suporte físico para suporte digital”.


2016

Estudos

Ruma à Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, para frequentar um seminário de verão sobre Holocausto e Genocídio. Termina a licenciatura e ingressa no mestrado em Direito com especialização em Ciências Jurídico-Empresariais, em Coimbra.


2018

Doutoramento

O interesse pela investigação vai crescendo. Realiza um seminário na Universidade de Corunha, em Espanha, sobre Direito Internacional. É neste ano que inicia o doutoramento em Coimbra, uma jornada que “não foi fácil”. Não tem sempre acesso imediato à bibliografia, o que atrasa a investigação.


2019

Investigação

Publica diversos artigos, mantendo o Direito do Trabalho como foco de investigação e não esquecendo o tema da proteção dos trabalhadores com deficiência. É o “primeiro candidato com deficiência visual a obter a bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia”, terminando o concurso como “o primeiro colocado no painel de Direito”.


2022

Em Nova Iorque, com “Java”

Obtém a bolsa Fulbright, que o leva até à Universidade de Columbia, em Nova Iorque, para realizar um estágio doutoral. No período que passa nos Estados Unidos, a presença de “Java”, a cadela-guia que o acompanha desde 2018, é “fundamental”.


2024

“Marco histórico”

A 2 de outubro acontece, no Colégio da Trindade, o “marco histórico”, como é caracterizado nas redes sociais da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Torna-se o primeiro aluno cego a concluir o curso de doutoramento nesta instituição. “Estava tranquilo antes e durante o momento de defesa da tese”, em Direito Público, que aborda a harmonização do Direito de Trabalho da União Europeia.

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