
Um em cada quatro portugueses apresentava, em 2020, sintomas de burnout. E o nosso país é o terceiro pior da UE ao nível da conciliação entre a vida pessoal e profissional
Um em cada quatro portugueses apresentava, em 2020, sintomas de burnout. E o nosso país é o terceiro pior da UE ao nível da conciliação entre a vida pessoal e profissional
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Os sintomas mais explícitos começaram a surgir no verão de 2020. Todas as semanas, acontecia-lhe não conseguir acordar com o despertador para ir trabalhar. Sentia-se ansiosa, sem energia e com dores físicas — do nada, começaram a doer-lhe os dois joelhos ao mesmo tempo. Foi por identificar que os sintomas não eram normais que decidiu ir à médica de família. Fez uma bateria de exames. “Também lhe expliquei que o nível de stresse e de exigência no trabalho era muito elevado — o que fazia com que não conseguisse descansar, porque estava sempre em alerta”, conta ao Expresso a jovem de 27 anos, que trabalha na área de recursos humanos. Foi nessa altura que a médica lhe disse que estava com um início de burnout. Receitou-lhe uns “antidepressivos fraquinhos”, que a “ajudavam a funcionar”, e Marta passaria a ser acompanhada por um psicólogo e um psiquiatra.
O problema estava no trabalho. A empresa instituía uma cultura de medo, onde muitos assuntos “eram resolvidos aos gritos”, e Marta “era vista como a miúda, nada do que dizia era válido”. Tinha excesso de trabalho e recebia telefonemas a qualquer hora e dia da semana. E desde o início da pandemia que a situação piorara “bastante”, em parte por causa do tipo de gestão da chefia (que controlava excessivamente os trabalhadores). Marta recorda que nas duas primeiras semanas de dezembro de 2020 teve “as piores férias de sempre”, porque o chefe lhe ligou a dizer que teria de estar contactável e a trabalhar. Mas quando o diagnóstico chegou e identificou a origem do problema, passou a contar não só com ajuda médica mas também com estratégias individuais. Arranjou um novo número e desligava o outro telemóvel, cujo número a empresa tinha, assim que saía do escritório. E em março apresentou a demissão. “Só não cheguei ao estado de burnout completo porque prestei atenção aos primeiros sintomas”, garante. Hoje, trabalha numa empresa “totalmente diferente”, deixou a medicação e já não se sente insegura cada vez que completa uma nova tarefa no trabalho — confiança que demorou quase um ano a recuperar.
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