
Encenação conjunta de Catherine Marnas e Nuno Cardoso e coprodução entre o Teatro Nacional São João e o Teatro Nacional de Bordéus, “Para Que os Ventos Se Levantem” estreia-se esta quinta-feira e pode ser vista até 6 de novembro
Encenação conjunta de Catherine Marnas e Nuno Cardoso e coprodução entre o Teatro Nacional São João e o Teatro Nacional de Bordéus, “Para Que os Ventos Se Levantem” estreia-se esta quinta-feira e pode ser vista até 6 de novembro
Vencida Troia, Agamémnon regressa a Argos vitorioso. Clitemnestra, que entretanto passara a viver com Egisto, assassina o marido. Anos depois, Orestes, filho de Clitemnestra e de Agamémnon, aparece para vingar a morte do pai, encorajado por Electra, sua irmã. Mata Egisto e Clitemnestra. Cometido o matricídio, é perseguido pelas Fúrias. Ajudado por Apolo e por Atena, irá ser julgado por um tribunal composto por 12 cidadãos.
Atena é a principal obreira desta instituição. Os votos do tribunal mais o voto de Atena resolvem a questão a favor de Orestes. As Erínias, divindades do sangue e da vingança, são persuadidas a transformar-se em entidades benfazejas da cidade. Muito resumidamente, é este o eixo condutor da ação da “Oresteia”, de Ésquilo, única trilogia trágica que nos chegou como tal: “Clitemnestra”, “Coéforas” e “Euménides”.
Um dos seus vetores mais importantes diz respeito à passagem de uma sociedade de vingança a uma sociedade de justiça exercida por um tribunal, noção capital aos olhos de toda e qualquer sociedade organizada. Foi por aqui que as vontades de Nuno Cardoso, de Catherine Marnas e de Gurshad Shaheman se encontraram, mais precisamente no interesse comum pela justiça e pela democracia: o diretor artístico do Teatro Nacional São João, no Porto, a diretora artística do Teatro Nacional de Bordéus e um escritor franco-iraniano. “Para Que Os Ventos se Levantem” é um olhar sobre a “Oresteia”, de Ésquilo, e ao mesmo tempo uma obra nova, que compreende três partes que, basicamente, correspondem às três peças antigas: “Clitemnestra”, “As Coéforas” e “Os Benevolentes” (“Les Bienveillants”).
Os nomes das personagens mantêm-se, mas a ação é deslocada para o presente, que não necessita de Troia para falar de guerra e devastação, e é atravessada por uma polarização essencial: dominantes e dominados, opressores e oprimidos, ricos e pobres, num confronto a partir do qual se jogam todas as complexidades da obra. “Para Que os Ventos Se Levantem” é um espetáculo bilingue, com seis intérpretes franceses e seis portugueses, e tem encenação conjunta de Catherine Marnas e Nuno Cardoso, coproduzido pelos teatros de Bordéus e Porto; foi estreado em Bordéus no dia 4 de outubro.
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