
Recordações de uma stripper que acaba de ser despedida e uma profunda reflexão sobre a arte, o trabalho e a vida de artista: “A Love Supreme”, um solo de Andreia Bento no Gabinete de Curiosidades da Karnart, em Lisboa
Recordações de uma stripper que acaba de ser despedida e uma profunda reflexão sobre a arte, o trabalho e a vida de artista: “A Love Supreme”, um solo de Andreia Bento no Gabinete de Curiosidades da Karnart, em Lisboa
Logo no início, ela diz: “Eles querem que eu me vá embora.” E outra vez, mais explicado, “eles querem que eu me vá embora. Caiu-me em cima, sem aviso, sem o mais pequeno sinal, sem sequer uma observação prévia para eu me poder preparar”. Bianca, uma stripper, tem a notícia de que deve tirar as coisas do camarim, foi despedida. Trabalhou 32 anos num peep show chamado A Love Supreme, em Pigalle (Paris). Entrou para lá aos 18 anos, tem 50. Está devastada e as palavras conotam uma violência pura e dura, sem atenuantes, um choque, uma pancada. “Caiu-me em cima como uma simples execução, do tipo, vem comigo dar uma volta, vamos os dois passear pela floresta primaveril. Olha para o céu, querida. E uma bala na cabeça.” As palavras que poderiam atenuar o choque — o passeio na floresta, a primavera — servem exatamente para o contrário. Olha para o céu, e uma bala na cabeça. É como nas guerras, como nas sociedades mafiosas, como nas empresas sérias, como em toda a parte. Uma bala na cabeça. Despedir pessoas é o sonho de empresários, de homens de negócios, de gestores, de empreendedores; grandes, pequenos e assim-assim; parece que é sinal de dinamismo, mobilidade. Despedir pessoas é sinal de que as coisas mudam, mas para quem é despedido, mudam para pior.
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