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Teatro & Dança

Teatro: Os contrastes de “Zénite”, uma casa sem telhado ou um telhado sem paredes

É um espetáculo de oposições: entre a luz e a escuridão, o real e o imaginário, a elegia e a catástrofe ou entre uma casa sem telhado e um telhado sem paredes
É um espetáculo de oposições: entre a luz e a escuridão, o real e o imaginário, a elegia e a catástrofe ou entre uma casa sem telhado e um telhado sem paredes
Filipe Ferreira

“Zénite”, de Sílvio Vieira, é um espetáculo concebido a partir de lugares que se passa ao ar livre quando o dia se faz noite, terminando a trilogia que incluiu “Arena” e “Equador”. Para ver a partir de dia 27 no Teatro Zénite (Bobadela), cuja bancada foi construída com entulho das obras do Teatro Nacional D. Maria II

“Zénite” é um espetáculo de pontos de vista e de deslocações. Começa num miradouro, de onde se avista o vale do rio Trancão. Na paisagem haverá figuras, pessoas, que num primeiro momento poderão parecer pouco mais do que pequenos pontos. As figuras movem-se, percorrem o rio e as terras nas margens do rio. Mais tarde, as pessoas que assistem vão descer até ao vale, vão poder sentar-se, ficar numa das margens, e continuar a assistir às deslocações das personagens, os intérpretes do espetáculo. Existem ações, há coisas que se passam, há coisas que são ditas ou contadas. Quem vê está já um pouco mais próximo de quem é visto. Mas quem vê, ou melhor, quem assiste, será convidado a deslocar-se ainda mais. Terá de voltar um pouco atrás; as casas estarão agora mais próximo, e as pessoas que entram no espetáculo estarão agora mais perto, terão o mesmo tamanho dos espectadores. “Zénite” é, assim, um espetáculo em que as mudanças de pontos de vista são, também, mudanças de escala. À medida que o público se desloca, o tamanho das coisas muda, como numa espécie de zoom em que, de pontinhos, as pessoas (e muitas das coisas) vão adquirindo dimensões maiores. “Zénite” é, também, um espetáculo sobre a luz. Começa ainda de dia, antes do pôr do sol. No final, é noite. A luz, então, será ou artificial, ou a luz das estrelas e da Lua, se os astros tiverem a bondade de se mostrar; ou as duas coisas, se a cornucópia da abundância se manifestar. Sendo um espetáculo sobre a luz, é também um espetáculo sobre aquilo que se vê e sobre o que deixa de ser visto, ou que se vê de diferentes maneiras — como a luz, ou a ausência dela, permite.

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