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Teatro & Dança

Teatro: O descontrolo do tempo na “Missão” de Heiner Müller

As personagens podem perder-se por entre as contradições mais violentas, mas “A Missão” desenha, em última análise, uma ideia do mundo
As personagens podem perder-se por entre as contradições mais violentas, mas “A Missão” desenha, em última análise, uma ideia do mundo
Luís Belo

“A Missão”, de Heiner Müller, numa encenação coletiva do Teatro da Cidade, mostra o mundo percorrido por dúvidas e contradições, para as quais não existem respostas concludentes. Até 1 de junho no Teatro da Politécnica, em Lisboa

No início de “A Missão” existe uma carta. Vem pelas mãos de um marinheiro, e é dirigida a Antoine. Na carta fala-se de uma missão, que não poderia ter sido cumprida. Iremos perceber que se tratava de uma missão confiada pela Convenção Francesa, no seguimento da Revolução, a três personagens. “Tínhamos chegado à Jamaica, três emissários da Convenção Francesa. Os nossos nomes, Debuisson, Galloudec, Sasportas. A nossa missão, uma revolta de escravos contra a soberania da Coroa britânica em nome da República de França”. Sasportas foi enforcado em Port Royal; Galloudec acabou por morrer num hospital em Cuba. Debuisson sobreviveu, longe dos ideais revolucionários. A carta é uma missiva que fala de mortos, dirigida a alguém que diz já não ser esse alguém. Fala de coisas que foram pensadas, projetadas, idealizadas e que deixaram de existir. “Tivemos de recusar a missão que a Convenção nos confiou por seu intermédio”, diz Galloudec na carta; “talvez outros a executem melhor”. As coisas mudaram e, como diz Antoine a um Sasportas que já morreu, “a França já não é uma República. O nosso cônsul tornou-se imperador e conquista a Rússia”.

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