Imagine que contrata uma pessoa para limpar a sua casa, mas que a encomenda se concretiza na conversão dos gestos banais quotidianos de limpeza numa dança artística. Esta foi a obra que projetou o nome do coreógrafo australiano Adam Linder no mundo da dança. Esta série, que continua a criar, iniciou-se em 2013 com “Some Cleaning”. Em 2014, o Museu de Artes e Design de Nova Iorque contratou Adam para limpar coreograficamente a exposição “NYC Makers: The MAD Biennial”. Esta semana, a obra de Adam Linder está no Teatro Rivoli (Porto) com a apresentação de “Acid Gems”, uma das duas peças que constam do programa do Centro Coreográfico Nacional — Ballet de Lorraine, que se complementa com “Static Shot”, de Maud Le Pladec. Linder é australiano, mas tem desenvolvido o seu percurso entre os Estados Unidos e a Alemanha. Cria em formatos muito distintos que vão dos espetáculos de palco a propostas mais conceptuais ou pensadas para contextos expositivos. Um elemento transversal ao seu trabalho é questionar como a dança está intimamente relacionada com noções de valor, desejo, mercadoria ou tecnologia. As obras da série “Some Cleaning” são emblemáticas desse desmontar o corpo como arte, pondo-o ao serviço de um labor quotidiano, ao atribuir um valor comercial num contexto artístico para ações consideradas banais.
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