Música

O antifascista Joe Mulhall infiltrou-se em grupos de extrema-direita. Está tudo em "Tambores ao Longe"

21 agosto 2022 16:51

Luís M. Faria

Manifestação de organização neonazi no estado norte-americano da Geórgia, em 2018

spencer platt/getty images

Joe Mulhall é um veterano da luta antifascista e infiltrou-se em grupos de extrema-direita durante anos. “Tambores ao Longe” explica porque é que os próximos anos não vão ser fáceis

21 agosto 2022 16:51

Luís M. Faria

Hoje em dia é comum ouvir a palavra normalização a propósito da ideologia da extrema-direita. Na verdade, não é só a ideologia. Segundo Joe Mulhall, quase dois mil milhões de pessoas viviam em países (incluindo a Índia) onde ela se encontrava no poder, sob alguma forma, em 2020. Se o advento desses governos não surpreende inteiramente em países com longas tradições de conservadorismo e autoritarismo, mesmo em democracias liberais criou-se espaço para ideias que noutros tempos seriam impensáveis. Essas ideias são promovidas por partidos tradicionais como forma de tirar espaço político a forças que propõem soluções ainda mais radicais, mas a quebra de um tabu pode ter efeitos imprevisíveis.

Mulhall é um veterano da luta antifascista. Investigador da organização antifascista HOPE not hate (HNH), infiltrou-se em grupos de extrema-direita durante anos. “Tambores ao Longe” é, ao mesmo tempo, uma história da ascensão da extrema-direita, uma análise das suas variedades (direita radical, alt-right, alt-lite, fascismo...) e um livro de memórias. Algumas passagens leem-se como histórias de suspense, com momentos em que o risco físico é real, como quando Mulhall acompanha uma milícia no Alabama: “Todos os dias, quando alguém da equipa saía do acampamento para ter melhor cobertura de rede para usar o telefone, eu aguardava o seu regresso, aterrorizado com a hipótese de que tivesse ido investigar-me. Se eu fosse exposto como antifascista, não alimentava a mais pequena dúvida de que me matariam e me abandonariam no deserto.”