
Reunidas num volume, as três primeiras ficções da argentina Ariana Harwicz têm o efeito de uma deflagração potentíssima, que esfrangalha o real e puxa o leitor, à bruta, para uma espécie de abismo
Reunidas num volume, as três primeiras ficções da argentina Ariana Harwicz têm o efeito de uma deflagração potentíssima, que esfrangalha o real e puxa o leitor, à bruta, para uma espécie de abismo
A leitura sucessiva — preferencialmente sem pausas — das três primeiras novelas da escritora argentina Ariana Harwicz (Buenos Aires, 1977) provoca no leitor um efeito de estranheza e fascínio que tanto pode redundar em deslumbramento como em repúdio (ou numa mistura dos dois, em grau que variará de pessoa para pessoa). Acima de tudo, esta “Trilogia da Paixão” é uma “experiência da linguagem”. E é enquanto fluxo verbal incontrolável, enquanto máquina de produzir imagens de puro assombro (quase sempre terríveis, no limiar da abjeção, mas por vezes também luminosas) que deve ser apreciada. Não há uma cartografia literária onde a escrita de Harwicz se possa inscrever de forma clara, porque ela não se parece efetivamente com nada. Nesta inclassificável “trilogia involuntária”, como a própria escritora lhe chama, apagam-se as fronteiras entre géneros ficcionais, ou até entre ficção e poesia. Ainda segundo a autora, não terá havido nesta espécie de rasura, neste apagamento dos limites tradicionais da narrativa, uma intenção deliberada, antes uma forma de “caminhar sonâmbula”, sem pensar no que lhe acontecia: “Escrever sem saber que se está a escrever, escrever a antiescrita, sonho maior de qualquer escritor.”
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