
Num romance magistral (de 1963), a austríaca Marlen Haushofer oferece-nos o relato austero, mas iluminador, de uma mulher estoica. Um poderosíssimo hino de louvor ao mundo natural e à sua beleza bruta
Num romance magistral (de 1963), a austríaca Marlen Haushofer oferece-nos o relato austero, mas iluminador, de uma mulher estoica. Um poderosíssimo hino de louvor ao mundo natural e à sua beleza bruta
Terceiro e mais importante romance da escritora austríaca Marlen Haushofer (1920-1970), “A Parede” instala-se, desde as primeiras páginas, sob o signo de um formidável tour de force narrativo. A protagonista, nunca nomeada, uma mulher de quarenta e poucos anos, viúva, com duas filhas “praticamente criadas”, decide passar um fim de semana nas montanhas, com uma prima e o seu marido, abastado proprietário de uma coutada de caça, em cujo pavilhão ficam alojados. Quando os anfitriões demoram a regressar de um saltinho à aldeia mais próxima, ela decide comer qualquer coisa e deitar-se cedo. Na manhã seguinte, verificando que o casal não veio dormir a casa, resolve dar uma volta pelas redondezas, esbarrando então literalmente com “a parede”, uma barreira invisível e intransponível, “semelhante à vidraça de uma janela”, que corta a paisagem ao meio. Do outro lado, não há quaisquer sinais de vida. Um vizinho, morto, assemelha-se a uma estátua, imóvel no gesto de beber água da fonte. Quando trepa até um ponto mais alto e usa os binóculos, confirma o pior: as estradas permanecem vazias, não há fumo a sair das casas, nem aviões a cruzar o céu.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: josemariosilva@bibliotecariodebabel.com