Ana Cláudia Santos estreou-se com “A Morsa”, textos que evocam uma deambulação incerta e irónica pela vida de personagens ‘desfocadas’
Em 2007, Ana Cláudia Santos (n. 1984) publicou um dos contos agora incluídos em “A Morsa” na “Ficções”. E podemos dizer que os seus textos fazem justiça à maleabilidade que a directora dessa revista, Luísa Costa Gomes, ajudou a introduzir no conto português. Veja-se a história de abertura do livro: a narradora revisita a sua infância na Cruz de Pau através do Google Street View, atravessa sem obstáculos as ruas iguais ou irreconhecíveis, e encontra, como acontece nessa aplicação, uns quantos rostos desfocados.
Há aqui uma abordagem estranha, um lugar pouco canónico, uma deambulação incerta, um enredo em sfumato, uma ironia magoada. Importa não tanto a nostalgia, mas a consciência acrescida das diferenças de classe (estratos dentro de estratos, fidalguias de subúrbio) ou a sofisticação a posteriori (a narradora, adulta, descreve a mãe de uma amiga comparando-a a Delphine Seyrig).
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