12 novembro 2022 22:15

Dezasseis anos depois de “A Estrada” surgem dois novos livros de Cormac McCarthy: “O Passageiro” e, daqui a um mês, “Stella Maris”
Dezasseis anos depois de “A Estrada”, à beira dos 90 anos, Cormac McCarthy escreve “O Passageiro”. O enredo é que menos importa
12 novembro 2022 22:15
O mínimo que se pode dizer é que qualquer juízo acerca de “O Passageiro” parece provisório e fragmentário, respeitante a algumas partes do livro e não ao todo. Seria natural que Cormac McCarthy, agora à beira dos 90 anos, se tivesse despedido com a exasperação apocalíptica de “A Estrada” (2006), que venceu o Pulitzer. Até porque nem a Bíblia aconselha a escrever alguma coisa depois do apocalipse. Mas eis que, 16 anos depois, surge “O Passageiro”, um objecto estranho, tão magistral quanto confuso.
Em termos narrativos, a mestria é evidente. McCarthy faz o que quer com diálogos, episódios, meditações, saltos temporais. Mas as intenções indefinidas e o enredo bizarro são uma confusão danada. Tomemos, justamente, o enredo do romance. Bobby Western (um nome quase mítico), filho de um físico que trabalhou com Oppenheimer, estudou também Física, mas trabalha como mergulhador de resgate; vive amargurado com a bomba atómica de 1945 e com o suicídio da irmã esquizofrénica, Alicia, por quem teve um amor incestuoso; e passa 300 e tantas páginas a fugir, não se sabe bem de quem, subsistindo como um sem-abrigo ou um sobrevivencialista. Contando isto, claro, não se conta nada, porque o enredo é o que menos importa. O que importa, então?